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Experimento teria resultado na morte de dois terços dos pacientes. Foto: Marcello Casal Jr./ABr

COVID

Unesco aponta “grave violação ética” em pesquisa defendida por Bolsonaro. Autor nega

11.10.2021 11:32 0
Atualizado em 12.10.2021 18:28

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A Rede Latinoamericana e Caribenha de Bioética da Unesco (Redbioética-Unesco) se manifestou em nota sobre uma pesquisa de tratamento precoce contra a covid-19 que teria supostamente matado entre 170 a 200 dos pacientes envolvidos. O experimento, defendido pelo presidente Jair Bolsonaro, foi para a Redbioética-Unesco, possivelmente, uma mais graves violações de direitos humanos e da ética em pesquisa com seres humanos na história da América Latina.

O estudo em questão é da empresa Flavio Cadegiani Endocrinologia e Serviços Médicos Ltda, registrada em Brasília, do médico endocrinologista Flávio Adsuara Cadegiani. O teste aconteceu com 294 pacientes, de acordo com informações da Comissão Nacional de Ética em Pesquisa (Conep), receitados com proxalutamida, um bloqueador hormonal masculino, para tratamento contra a covid-19.

O uso do medicamento no combate contra a covid-19 foi defendido pelo presidente Jair Bolsonaro e a Unesco alerta que a denúncia vinda da Comissão Nacional de Ética em Pesquisa: “inclui possíveis graves infrações das normas éticas de investigação sobre aqueles que violaram os direitos dos pacientes em diversas etapas do estudo”. No dia 2 de setembro, a Agência Nacional de Vigilância Sanitária (Anvisa) decidiu suspender a importação e uso da proxalutamida em pesquisas científicas com seres humanos no Brasil.

Publicação sobre o estudo clínico do tratamento precoce com a proxalutamida nas redes sociais do médico Flávio Cadegiani

Publicação sobre o estudo clínico do tratamento precoce com a proxalutamida nas redes sociais do médico Flávio Cadegiani (reprodução/ Facebook)

Além da morte dos pacientes, a pesquisa é suspeita de não comunicar os óbitos dos pacientes. Para a Redbioética-Unesco o experimento deveria ter sido encerrado ainda quando se percebeu a alta letalidade do tratamento. “É condenável que os investigadores, apesar de terem conhecimento de sucessivas disfunções, não tenham apresentado análise crítica destas bem como de seus graves efeitos adversos, e tenham optado por continuar com o recrutamento e implementação dos estudos”, declaram em nota.

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A denúncia da Conep cita que os dados sobre os óbitos, não apresentam análise crítica que permita compreender a causa da morte direta e quais foram os critérios adotados para classificá-los como ” definitivamente não relacionado à droga de intervenção”: “Inexistindo análise crítica dos EAGs (óbitos) e a caracterização da rastreabilidade do ciclo de dispensação do medicamento do estudo, torna-se impossível descartar a possibilidade de morte provocada por toxicidade medicamentosa ou por procedimentos da pesquisa”

O organismo internacional considera que deve haver cooperação e união dentro da comunidade internacional para investigar o caso, bem como para punir os responsáveis. “Nenhuma emergência sanitária, ou contexto político-econômico, justifica acontecimentos como os que, segundo o que foi divulgado ao que foi denunciado, teriam ocorrido no Brasil”, ponderam.

Em pedido de resposta, a assessoria jurídica do médico Flávio Cadegiani diz que, “o que se verifica no comunicado é que a UNESCO foi induzida a erro por declarações tendenciosas, por informações inverídicas e distorcidas fornecidas pela CONEP, decorrentes de vazamentos ilegais, as quais são objeto de investigações pelos órgãos de controle e pela Justiça Federal. Portanto, é certo que as manifestações da UNESCO estão baseadas em premissas falsas, em narrativas.”

Veja a íntegra do pedido de resposta:

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Veja a íntegra da denúncia da Conep:

Essa reportagem foi atualizada às 18h36 para a inclusão do direito de resposta do médico Flávio Cadegiani e a denúncia da Conep.

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