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Comitiva de representantes de 18 movimentos vai aos EUA pedir apoio a quem vencer as eleições no Brasil, seja o candidato que for. [fotografo]Martin Falbisoner [/fotografo]

Invasão do Capitólio: casamento entre a cólera e o algoritmo

08.01.2021 14:27 1
Atualizado em 10.10.2021 17:29

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A invasão do Capitólio em Washington não é só uma ameaça à democracia norte-americana. Não é apenas uma ação desproporcional de um bando de idiotas radicais. É uma demonstração concreta de como os marqueteiros da cólera e a rede de apoiadores deles podem inflamar emoções negativas e estimular ações golpistas. Não se trata de uma diferença política entre republicanos versus democratas apenas.

Por trás das agressões radicais esconde-se uma centena de audazes manipuladores das emoções negativas, os spin doctors, trolls ou outras denominações que identificam a máquina do mal. O que assusta é constatar que esses manipuladores do ódio são capazes de estimular audácias políticas cada vez mais ousadas. Se chegaram a uma ação tão estapafúrdia nos Estados Unidos, democracia relativamente estável, não se duvida que realizarão ações ainda mais radicais em democracias mais frágeis.

O noticiário jornalístico dos próximos dias revelará, com certeza, de que maneira os invasores do Capitólio se articularam previamente via internet. Irá mostrar como o ódio foi exacerbado até levar às descabidas ações. O tecno-populismo pós-ideológico, doutrina que está por trás dessas ações, é uma ideologia que se especializa em inflamar paixões através das redes sociais. É o casamento entre a cólera e o algoritmo, como disse um analista político.

O jogo não é mais jogar a democracia, enfrentar eleições democráticas, respeitar os poderes constituídos ou a liberdade de imprensa. Dissemina-se a ideia de um complô ou a teoria de uma conspiração que é preciso derrotar. Como foi o caso na infeliz invasão do Capitólio: por trás está a teoria da conspiração insuflada por Donald Trump. No tecno-populismo não há tolerância, as diferenças ideológicas não se restringem mais às diferenças políticas, ao jogo direita versus esquerda mas, ao “nós versus eles”. “Eles” são todos que não se coadunam com o “nós”. O jogo é eliminar o adversário, excluir o diferente, aniquilar todos que não se afinam com as posições radicais.

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A propaganda do tecno-populista não argumenta, não racionaliza, não tolera: só fomenta a opinião, uma só opinião. Não há verdade que possa contestar a ‘minha opinião’, ‘minha convicção é absoluta’. O que é verdadeiro é aquilo que corresponde às ‘minhas convicções’. A partir daí, ‘eu posso qualquer coisa’: posso invadir, demolir ou violentar. A tropa que invadiu o Capitólio estava convicta que a eleição norte-americana foi uma fraude, por isso estavam todos decididos a impor a verdade deles.

> Bolsonaro não comenta invasão do Capitólio, mas diz que eleição teve fraude

A propaganda tecno-populista estimula entre seus adeptos a sensação de certeza, a plenitude do domínio da verdade, uma verdade que não admite contrários: os juízes são mentirosos, os políticos são todos corruptos, a imprensa é toda ‘vendida’. E assim por diante, ‘nada presta: só ‘nós’. Como disse um blogueiro da direita norte-americana (que possivelmente agiu também por trás da invasão do Capitólio), no estímulo às emoções “o absurdo é uma ferramenta mais eficaz que qualquer verdade”.

Nenhuma propaganda do mal é capaz de qualquer coisa em qualquer lugar, obviamente. Ela se desenvolve com eficácia onde há um descontentamento ou ressentimento popular contra o sistema, o que não é raro existir em qualquer parte. Existia na Alemanha pré-nazista, na Hungria pré Victor Urban, no Movimento Cinco Estrelas na Itália, e assim por diante.

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Necessita, além disso, de líderes populistas que brotam nesses momentos de descontentamento popular generalizado, tipo Donald Trump e Jair Bolsonaro: meio aloprados, meio palhaços, meio atrevidos. Líderes que personificam o ódio e as emoções negativas. Disso, hoje, também há fartura no mundo.

> Bolsonaro diz que sem voto impresso Brasil terá problema maior que os EUA

Não se iludam os ingênuos. Por trás da invasão do Capitólio há uma maquiavélica máquina marqueteira técno-populista muito bem articulada com a rede de apoiadores. Com ramificações hoje no mundo inteiro e o financiamento de entidades cristãs conservadoras e organizações ligadas à extrema direita, como o movimento QAnon, que já se espalhou pela América Latina. A imprensa séria tem revelado o nome e as ações de algumas dessas organizações ligadas a Internacional Nacionalista ou a Internacional Liberal.

Aqui no Brasil, a máquina tecno-populista existe desde antes da campanha de Jair Bolsonaro e influencia há muito o jogo político. Jogo que será pesado. Aqui, como lá, haverá contestação tecno-populista na forma que convier aos líderes populistas e aos spin doctors da cólera. Aliás, isso já começou. As gangues bolsonaristas já deram demonstrações públicas do atrevimento que são capazes.

Jair Bolsonaro e seus filhotes não se cansam de desacreditar o sistema eleitoral eletrônico brasileiro, nem de culpar a mídia por todos os males. No dia seguinte da invasão do Capitólio, Bolsonaro ameaçou: “Aqui no Brasil, se tivermos o voto eletrônico em 2022, vai ser a mesma coisa”. São as preliminares das ações que virão adiante. O parlamento e os tribunais superiores brasileiros que se preparem.

O texto acima expressa a visão de quem o assina, não necessariamente do Congresso em Foco. Se você quer publicar algo sobre o mesmo tema, mas com um diferente ponto de vista, envie sua sugestão de texto para [email protected].

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Uma resposta para “Invasão do Capitólio: casamento entre a cólera e o algoritmo”

  1. 13582196 disse:

    Sim é meia-verdade que há manipulação, porém a outra meia-verdade é que a União Soviética também manipulava e seu legado socialista ainda o faz.
    Lembra-se daquelas fotos no qual Trotsky fora sumariamente apagadas por ordem de Stalin?
    Reparou que você mesmo está tentando manipular em seu próprio texto ao dar ênfase à extrema direita e ignorar extrema esquerda igualmente nociva?
    Desse jeito você não passa de um hipócrita.
    O partido Democrata Americano tem transformado cidades prósperas como San Francisco e Nova York em antros de criminalidade comparável à São Paulo e Rio de Janeiro e tem usado o racismo para tentar mascarar a crescente destruição social em suas administrações, culpando quem? Os brancos…
    E olha que gozado, os administradores Democratas eleitos que estão causando esse estrago SÃO BRANCOS, como o Biden!

    https://www.latimes.com/california/story/2021-01-03/pandemic-crime-trends-los-angeles

    https://abc7ny.com/new-york-city-crime-nyc-rate-2020-in-increases/9204247/

    O próprio Biden usou o racismo para tentar manipular a opinião das pessoas sobre a invasão ao dizer que se fossem negros o resultado da invasão seria diferente.
    Diferente como? Houve cinco branquelos mortos, sendo uma por disparo de arma de fogo. E qual a comoção sua pelas mortes? NENHUMA! Apenas um discreto silêncio de satisfação!

    https://noticias.uol.com.br/internacional/ultimas-noticias/2021/01/07/tratamento-seria-diferente-se-negros-tivessem-invadido-capitolio-diz-biden.htm

    Enfim, HIPOCRISIA $ocialista!

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