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O povo saqueado – a África e a “generosidade” da indústria internacional

Dia desses meditava sobre a África. Trata-se de um continente riquíssimo: abriga as maiores reservas mundiais de bauxita, cromo, manganês, platina e zircônio. Seu solo contém 57% das reservas conhecidas de diamante do planeta, 48% das de cromo e 19% das de ouro e urânio.

Paradoxalmente, no entanto, esse solo tão rico abriga um povo miserável! De acordo com o Banco Mundial, 67% dos africanos – 670 milhões de pessoas – vivem (eu disse vivem?) com no máximo US$ 3,10 por dia.

Como isso é possível? Haveria alguma explicação lógica? Decidi, então, pesquisar algo a respeito.

Descobri, para início de conversa, que a África ganha, anualmente, US$ 19 bilhões em ajuda externa. Porém, os mesmos países que nos encantam com tanta generosidade recebem US$ 68 bilhões por meio de fraudes fiscais praticadas por suas empresas lá instaladas – o equivalente a 6,1% do PIB de todo o continente. Acentuo: essa rubrica se refere apenas a fraudes fiscais e evasão de divisas.

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[fotografo]Filipe Moreira/Creative Commons/EBC[/fotografo]

Pedro Valls, sobre exploração de recursos naturais por parte de grandes empresas mundo afora: “Qual verdade terrível será encontrada?”

Aquele continente perde, a cada ano, US$ 29 bilhões somente em função da extração ilegal de riquezas minerais, vegetais e animais praticada por empresas estrangeiras. Aliás, por falar em empresas estrangeiras, a remessa de lucros destas aos seus países de origem tem alcançado a espantosa cifra de US$ 32,4 bilhões. Curiosamente, os lucros delas aumentam, porém os preços das riquezas não-renováveis que de lá extraem só diminuem – o do petróleo, por exemplo, caiu 51% desde 2011.

 

Adicione a essa conta US$ 26,6 bilhões em função dos prejuízos econômicos decorrentes de mudanças climáticas – e não são os africanos, claramente, responsáveis por mais essa praga. Em seguida, acrescente outros US$ 6 bilhões – é quanto o continente perde em função da emigração do melhor de sua força de trabalho, física e intelectualmente considerada.

Acentuo que apenas estamos falando de rubricas absolutamente simples e fáceis de visualizar, relativas às mais puras e refinadas ganância e opressão por parte de alguns poucos conglomerados. E apenas elas já seriam mais do que suficientes para a eliminação da miséria de todo aquele povo.

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Pois é. Eis aí a realidade da África. Proponho, agora, um exercício: pesquise esses mesmos indicadores, porém substituindo a África pela América Latina ou pelo Brasil. Qual verdade terrível será encontrada?

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