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Política, Brasília e os bastidores do poder como você nunca viu

Décadas depois da Segunda Guerra Mundial, o presidente Vladimir Putin segue o mesmo roteiro do ditador alemão.

Opinião

Putin: o Hitler do século 21

28.02.2022 12:47 0
Atualizado em 04.03.2022 15:10

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A data é 28 de junho de 1919. Os gastos intensos com uma guerra além de suas fronteiras, somados aos quatro anos de comprometimento de suas cadeias de abastecimento, levaram o Império Alemão a assumir a derrota na Primeira Guerra Mundial. A (até então) segunda potência econômica e militar do mundo se ajoelhava diante de seus rivais britânicos e franceses em um gesto simbolizado com a assinatura do Tratado de Versailles.

Além de sofrer as duras dificuldades financeiras da guerra, a derrota resultou na perda de uma série de territórios historicamente ocupados pelos alemães: a Silésia seria entregue à recém-formada Tchecoslováquia. A Polônia, ocupada pelo império desde o século XVIII, seria libertada. A cidade portuária de Danzig, posição estratégica para o domínio alemão no mar Báltico, passaria a ser uma cidade independente, com forte influência política polonesa.

As reformas impostas no acordo de Versailles não agradaram o exército, em especial o cabo Adolf Hitler. Crentes de que o império tinha condições de virar o resultado da guerra, os veteranos derrotados passaram a enxergar o novo governo como um conchavo de gestores fracos, que cederam terras historicamente suas a impérios rivais. A solução seria a adoção de uma nova doutrina, que prega a entrega do poder a um forte líder militar, capaz de unir a nação e se expandir em direção às terras consideradas suas por direito.

Não demorou para que Hitler chegasse ao poder com sua nova ideologia, e instituísse uma política de perseguição a rivais dentro e fora de seu próprio partido. Seus aliados não estranharam: para eles, os assassinatos apenas representavam parte de um esforço para garantir a unidade nacional. Sua popularidade também não caiu: uma vez no poder, o novo líder utilizou a máquina pública para criar um culto nacional ao redor de sua personalidade.

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Estabelecido no poder, chegava a hora de recuperar os territórios perdidos em Versailles. O primeiro alvo foi a Renânia, transformada em uma zona desmilitarizada pelo acordo de Versailles. Hitler enviou seu exército à região, e a comunidade internacional pouco se importou. Era apenas um conflito de interesses entre alemães e seus vizinhos franceses.

Paralelamente, os alemães precisavam testar seu novo exército, reconstruído após a crise do período pós-guerra. Na Espanha, um cenário propício surgia: um novo líder fascista na Espanha travava uma guerra civil contra rebeldes pró-democracia. Sob a justificativa de estar ajudando um aliado, Hitler mobilizou sua máquina de guerra, efetivando a ascensão de Francisco Franco ao poder.

Em seguida, sob a justificativa de se tratar de uma região de maioria alemã, os alemães reivindicaram os sudetos, região fronteiriça da Tchecoslováquia. A comunidade internacional tentou intermediar uma solução, mas nada fez quando os alemães seguiram adiante pressionando a demanda, chegando a ocupar a totalidade do país.

A comunidade internacional só percebeu o quão errada estava a postura de Hitler quando começou a pressão sobre a jovem república ao leste. Além da retórica do pertencimento histórico, o líder nazista se aproveitou de pontuais conflitos entre nacionalistas radicais poloneses e alemães para alimentar a narrativa de que seu povo era vítima de um genocídio no país vizinho.

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O mundo se solidarizou pela Polônia, e tentou oferecer garantias que nada adiantaram: no dia primeiro de setembro de 1939, um navio alemão abria fogo contra um depósito militar polonês, marcando o início da Segunda Guerra Mundial.

Décadas depois, em 26 de dezembro de 1991, o império soviético chegava ao fim. Problemas econômicos internos, somados ao impacto de quatro décadas de uma corrida armamentista na qual seus rivais americanos saíram vitoriosos, levaram o Estado centralizado na Rússia a colapsar. A queda veio acompanhada da perda de territórios historicamente ocupados pelos russos: Ucrânia, Geórgia, Cazaquistão, Bielorrússia e tantas outras ex-repúblicas soviéticas viravam países independentes.

A dissolução da União Soviética não agradou seus militares, que viram o novo governo como um conchavo de líderes fracos, incapazes de manter a unidade territorial russa. Liderados pelo tenente-coronel Vladimir Putin, um ex-espião da KGB, subiram ao poder defendendo uma doutrina de reocupação de territórios historicamente russos, e de ampla oposição ao atlantismo: termo adotado pelos apoiadores de Putin ao imperialismo ocidental.

Para se efetivar no poder, Putin passou a assassinar seus concorrentes e rivais em seu próprio território. Políticos, juristas, jornalistas e ativistas de direitos humanos são alvos constantes de seu regime, com pouca ou nenhuma reação por parte da comunidade internacional. Internamente, trata-se do preço para manter a Rússia unida e impedir a influência de agentes atlantistas sobre a política interna.

Firme no poder, chegava a hora da Rússia recuperar suas antigas fronteiras. Para tal, instituiu uma política de distribuição de passaportes russos a moradores das regiões georgianas da Abecásia e Ossétia do Sul. A presença de novos cidadãos russos na região criou o precedente para que, em 2008, Putin invadisse a Geórgia com a premissa de defender as “minorias étnicas russas” no país. O Conselho de Segurança da Organização das Nações Unidas foi convocado para tratar da situação, mas nada foi decidido.

Seis anos depois, na Ucrânia, um aliado de Putin foi expulso da presidência. O ditador russo aproveitou a tensão local para anexar a península da Crimeia: antiga possessão russa vital para o controle do Mar Negro. Também financiou e armou separatistas no leste da Ucrânia, onde afirmou tentar proteger uma maioria étnica russa contra um governo controlado pelo imperialismo ocidental. A comunidade internacional pouco fez a respeito.

Antes de dar um passo adiante, Putin precisou encontrar em um conflito externo uma forma de testar sua nova máquina de guerra, em reconstrução desde o final da década de 90. A solução estava na Síria, onde o ditador Bashar al-Assad, inimigo dos Estados Unidos, precisava de apoio para enfrentar tanto os terroristas do Estado Islâmico quanto os rebeldes pró-democracia.

Agora Putin se aproveita da tensão entre o governo ucraniano e os separatistas no leste para moldar uma narrativa de “genocídio das minorias russas”. Diante do aumento da atividade de facções ultranacionalistas na Ucrânia, o líder russo justifica a invasão da jovem república com base em uma “desnazificação”. Resta agora saber até onde a comunidade internacional deverá tolerar a nova etapa do expansionismo russo.

 

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