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A saída do partido se dá logo após o Arthur do Val anunciar seu desligamento do Movimento Brasil Livre (MBL), da qual foi um dos fundadores. Foto: Alesp

Machismo

Senado deve convocar Arthur do Val e comunidade ucraniana pede cassação de mandato

05.03.2022 13:27 0

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A Comissão de Direitos Humanos do Senado deve convocar o deputado estadual por São Paulo Arthur do Val para prestar esclarecimentos sobre as falas machistas contra mulheres ucranianas em situação de vulnerabilidade. O presidente do colegiado, senador Humberto Costa (PT-PE), anunciou neste sábado (5) que irá apresentar um requerimento para ida do político paulista à Casa. Enquanto isso, a comunidade ucraniana no Brasil pediu à Assembleia Legislativa de São Paulo a cassação do mandato dele. “O deputado Arthur do Val revelou-se uma pessoa de índole perigosa para o exercício de funções públicas”, diz o documento.

Integrante do Movimento Brasil Livre (MBL) Arthur do Val, também conhecido como Mamãe Falei, divulgou um áudio no qual afirma que as mulheres ucranianas são “fáceis porque são pobres”. Ele disse ainda que a fila de refugiados tinha mais mulheres bonitas do que a “melhor balada do Brasil” e chegou a se gabar de que teria facilidade com as mulheres pelo número de seguidores que acumula na rede social Instagram.

Arthur do Val havia viajado à Ucrânia, que está em guerra contra a Rússia há mais de dez dias, acompanhado do coordenador do MBL, Renan Santos. Eles chegaram a postar fotos nas redes sociais auxiliando na produção de coquetéis molotov, bombas caseiras que os ucranianos vêm usando para conter o avanço das tropas russas.

Humberto Costa classificou as declarações de Val como “misóginas, machistas e atentatórias à dignidade humana”.

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“É inadmissível que alguém com mandato parlamentar agrida vítimas de guerra de forma tão brutal, aumentando o horror da tragédia já vivida por elas. Ou tomamos uma atitude drástica ou essa violência praticada por um parlamentar pode ser encarada como uma agressão do próprio Brasil. E não vamos permitir que um ato vil, covarde e desumano como o praticado por Arthur do Val seja confundido com a índole do nosso povo, que é solidário aos ucranianos e, especialmente, às mulheres vítimas dessa terrível guerra”, escreveu o senador do Twitter.

A justificativa de Arthur do Val

Ao desembarcar no Brasil, neste sábado (5), o deputado e integrante do MBL pediu desculpas pelas falas afirmando que o que elas ocorreram “em um momento de empolgação” e que havia enviado “num grupo privado para uns amigos”.

“São dois contextos diferentes. Um é o Arthur que foi lá fazer a missão e saiu. A outra é o Arthur que já tinha saído e mandou um áudio num grupo privado para uns amigos dele de forma erra, descabida, não foi a melhor das posturas, mas é um áudio privado”, disse.

Em conversa com o Congresso em Foco na sexta-feira, antes dos áudios vazarem, o político comentou sobre a ida para a Ucrânia e disse que a viagem estava “inacreditável”. “Foi com certeza uma das jornadas mais transformadoras da minha vida. Eu nem embarquei no Brasil e já sou outra pessoa… Foi transformador”.

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Arthur do Val e Renan Santos chegaram a fazer uma vaquinha para custear a viagem.

De volta ao Brasil, o deputado estadual viu a namorada encerrar o relacionamento após a eclosão do episódio e recebeu críticas pelas falas sobre as mulheres ucranianas tanto do pré-candidato à presidência pelo Podemos, Sergio Moro, quanto de políticos que vão desde o espectro mais à esquerda, como integrantes do PSOL, até da direita mais conservadora como as deputadas estadual Janaína Pascoal (PSL-SP) e federal Carla Zambelli (PSL-SP).

No final da manhã deste sábado ele divulgou uma nota na qual retira a pré-candidatura ao governo de São Paulo, para o qual iria disputar com o apoio de Moro.

Sergio Moro e Podemos

Tanto o Podemos, quanto o ex-juiz Sérgio Moro divulgaram nota repudiando nas falas de Arthur do Val. Nas redes sociais, Moro classificou as declarações como “graves” e “inaceitáveis

O senador Álvaro Dias seguiu o mesmo tom e chamou as falas de Arthur do Val de “machistas” e “irresponsáveis”.

Em uma nota oficial, a Executiva do Podemos escreveu: “Gravíssimas e inaceitáveis são as declarações do deputado estadual Arthur do Val, que foram divulgadas na imprensa. Não se resumem ao completo desrespeito à mulher, seja ucraniana ou de qualquer outro País, mas de violações profundas relacionadas a questões humanitárias, em um momento em que esse povo enfrenta os horrores da guerra. O Podemos repudia com veemência as declarações e, com base nelas, instaura de imediato um procedimento disciplinar interno para apuração dos fatos. Até este momento o partido não havia conseguido contato com o deputado, que estava em voo.”

Repúdios

Instituições também emitiram notas de repúdio às declarações do deputado estadual. Dentre eles, a Secretaria da Mulher da Câmara dos Deputados que afirmou que,  “por meio da Procuradoria da Mulher, acionará os órgãos responsáveis, inclusive a Assembleia Legislativa do Estado de São Paulo, para que sejam tomadas todas as providências cabíveis”.

“Como órgão político e institucional que atua em benefício e defesa da população feminina brasileira, a Secretaria da Mulher reforça que todos os esforços continuarão sendo feitos em defesa dos avanços alcançados por meio de políticas públicas de proteção e empoderamento das mulheres. É preciso registrar, repudiar e insistir que manifestações de violência contra as mulheres, como estas proferidas pelo parlamentar, não serão aceitas. O combate à violência contra as mulheres continuará constante, para que se garantam seus direitos e não ocorra qualquer retrocesso nas conquistas sociais alcançadas pela efetiva equidade”, escrevem.

A ministra da Mulher Damares Alves também se manifestou. “Nojento. Baixo. Sujo. São horripilantes as palavras de @arthurmoledoval. Não ficará sem resposta! Este comportamento não é compatível com a de um representante do povo. Pediremos sua cassação imediata!”, postou nas redes sociais.

O MBL também divulgou nota na qual “repudia o teor dos áudios do seu integrante”. De acordo com o movimento, “tal fato, contudo, não invalida o objetivo da viagem”. Ainda no texto, escreve: “lamentamos o mal-estar que causamos às pessoas, especialmente mulheres”. A nota termina com críticas a “lulistas e bolsonaristas que viram nessa ocasião apenas um motivo” para ataques.

 

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