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A produção de desigualdades na Educação brasileira

28.06.2021 08:20 0
Atualizado em 10.10.2021 16:54

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Dentre os tantos danos da pandemia, chamam a atenção a escalada de prejuízos na educação brasileira. A nossa gigantesca desigualdade social, cujo aprofundamento foi identificado em relatório recente da Organização das Nações Unidas (ONU), ficará ainda maior no futuro. Houve uma clara piora no já assimétrico acesso à educação de qualidade entre estudantes de escolas públicas e privadas, ou mesmo entre escolas públicas de cidades com realidades sociais e econômicas distintas.

O controle da disseminação da covid-19 por meio do isolamento social tem se consagrado como a mais eficiente medida de controle não farmacológico da pandemia. As mais respeitadas publicações científicas e os organismos internacionais de saúde orientam essa medida de forma ampla e irrestrita, independentemente dos cenários sociais e econômicos das nações mundiais. Isso tem incluído, obviamente dependendo dos cenários epidemiológicos específicos e temporários, as suspensões da interação física no ambiente escolar.

A despeito de uma menor letalidade ou mesmo de uma menor frequência de complicações mais graves da doença entre crianças e jovens, não se exime o ambiente escolar de medidas restritivas, especialmente em cenários de maior risco epidemiológico. Além de as crianças poderem contaminar ou serem contaminadas e assim serem potenciais propagadoras da doença, a escola envolve também o trabalho de um número significativo de profissionais da educação em idade adulta, alguns deles portadores de comorbidades.

A intensidade e a duração do contato entre estudantes e profissionais e o próprio número de pessoas dentro de uma escola têm orientado os devidos protocolos sanitários restritivos. Vão desde a suspensão completa das aulas até medidas de restrição de aglomerações e de contato social dentro da escola, dependendo de cada cenário.

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A situação tem imposto rápidas adaptações aos processos de ensino e aprendizagem na educação básica. Em geral, as escolas particulares têm sido bem céleres em desenvolver sofisticadas plataformas de educação à distância e, cada vez mais, aprimoram a interação entre estudantes e professores.

Mesmo em cidades em que as aulas têm, progressivamente, voltado ao normal, muitas escolas do ciclo da educação básica mantêm a opção de um modelo misto, que permite o direito ao aluno de ir à aula ou acompanhá-la de casa, em tempo real. O impacto dessas mudanças na perspectiva do aluno da rede particular depende de eficientes plataformas de aula online, do fácil acesso do estudante à internet em casa e do apoio e supervisão de pais ou cuidadores no ambiente doméstico.

Entretanto, a realidade do estudante da educação básica na escola pública no Brasil é bem diferente. Tem dependido, fundamentalmente, do compromisso político, da criatividade administrativa e das situações econômicas e fiscais de municípios e estados brasileiros. Tem havido uma enorme diversidade de prioridade dada ao assunto e das abordagens pedagógicas, mais ou menos eficientes, sendo implantadas em nosso gigantesco território. Não deveria ser assim!

Na educação básica, como em muitas outras responsabilidades públicas, deveria haver integração entre a União e as outras unidades federativas e, principalmente, uma coordenação nacional por parte do Ministério da Educação garantindo orientações e protocolos comuns, além do apoio material e tecnológico para garantir um padrão mínimo de qualidade do ensino, independentemente da localização, do tamanho populacional ou da realidade econômica do município ou estado.

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Tem havido uma completa ausência de posicionamento e liderança do governo central na condução desse processo. A realidade comum a muitos estudantes da rede pública é de ausência ou dificuldade de acesso à internet em casa ou mesmo na escola, da inexistência de acesso a sistemas online de ensino que funcionem em sua escola, de pouca supervisão e apoio domiciliar para acompanhamento das aulas à distância e, inclusive e não menos importante, da entrega da alimentação escolar para garantir o suporte calórico diário mínimo aos estudantes.

Faltou presença no fornecimento de orientações sanitárias mínimas e comuns às escolas públicas de todo o Brasil, na promoção de campanhas educativas para alunos e trabalhadores da educação, na disponibilização de orientação pedagógica, tecnologias, softwares e equipamentos para prover um modelo nacional comum de aulas online com garantias de acesso e de qualidade mínima, independente da região do país. E, o mais grave: faltaram garantias para um programa de segurança alimentar apropriado em substituição à merenda escolar para crianças e jovens da escola pública.

Muitos municípios e estados tiveram que, mais uma vez, assumir o protagonismo, na ausência da necessária coordenação e liderança da autoridade nacional, a exemplo do que ocorreu na condução das próprias ações de saúde de enfrentamento à pandemia.

Nesse caso, municípios com situação econômica e fiscal mais precária ou com deficiências técnicas e tecnológicas de outras naturezas não conseguiram garantir aulas online ou mesmo o suprimento alimentar básico para crianças em idade escolar. Nesses locais faltam aula, conteúdo pedagógico e até mesmo comida para os estudantes.

Já não bastasse a realidade resultante do fosso existente entre a qualidade da educação privada e pública no Brasil, a falta dessa coordenação e do apoio federais aprofunda severamente, agora, as desigualdades dentro do próprio sistema público.

Tivéssemos uma liderança nacional afirmativa em relação à pandemia seria possível promover a educação e uma política de isolamento que evitasse mortes e, ao mesmo tempo, garantisse uma presença do governo federal no sentido de mitigar o sofrimento social. Essa ausência e apatia do governo central tem sido supressora de direitos e promotora de ignorância. O que temos agora, em pleno funcionamento, é uma fábrica para ampliar ainda mais as nossas cruéis desigualdades no futuro.

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