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Foto: Ascom PR

Populismo

A manipulação travestida de simplicidade

08.02.2022 07:37 0

Opinião
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Para reiterar seu pertencimento ao povo simples, é comum que políticos populistas adotem elementos culturais relacionados às classes menos privilegiadas da sociedade. Atitudes que, à primeira vista, aparentam ser inocentes e amadoras, muitas vezes são pensadas para maximizar a atenção da mídia e obter o apoio popular.

Em 14 de fevereiro de 2019, o deputado brasileiro Major Vítor Hugo (PSL-GO) tuitou a foto de uma reunião oficial do governo em que o presidente Jair Bolsonaro usava chinelos, enquanto seus ministros trajavam ternos. O código de vestimenta de Bolsonaro foi claramente uma tentativa de se distanciar da figura do político tradicional que usa ternos feitos sob medida por alfaiates – algo que fez durante quase 30 anos como parlamentar. No dia seguinte, durante uma reunião sobre a reforma da previdência, Bolsonaro publicou uma foto na qual aparecia com uma camiseta verde-limão falsificada do Palmeiras, ao lado de Ministros engravatados.

Essa espécie de investida, com o intuito de estabelecer uma conexão com o brasileiro comum, foi também muito utilizada pelo ex-Presidente da República Luiz Inácio Lula da Silva. Em uma era pré-redes sociais, a estratégia era outra, e vinha por meio de suas declarações, que muito contrastavam com a realidade vivida pelo então Presidente. Em 13 de janeiro de 2005, Lula afirmou: “na hora que o pobre conquista algo, um milímetro de espaço, ele incomoda.” Doze dias depois, em um novo discurso, disse: “toda vez que o pobre começa a ter um mínimo de ascensão, aparecem os de cima, que começam a fazer crítica, porque para eles pobre tem que ser pobre a vida inteira.” A estratégia de expressar empatia em relação ao povo pobre é repetida até os dias atuais, e aparentemente gera resultados.

A exaustiva de reafirmação de pertencimento ao brasileiro comum era também reforçada por meio do uso de expressões impróprias: “quero saber se o povo está na merda, e eu quero tirar o povo da merda em que se encontra”, afirmou o então Presidente durante uma cerimônia do programa “Minha Casa, Minha Vida”. Contudo, isso já não mais destoa em nossos ouvidos. Após três longos anos ouvindo um “porra”, entre uma declaração presidencial e outra, nos acostumamos com a falta de decoro e apreço do Executivo.

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O que mais surpreende é que, ironicamente, o esbanjamento de Lula e Bolsonaro durante seus respectivos mandatos, muito se distanciaria daquela vivida pelo brasileiro comum. De acordo com o Portal da Transparência, somente no ano de 2021, os gastos da Presidência da República com o cartão corporativo ultrapassaram os R$ 20 milhões. Apenas em suas férias de fim de ano, no final de 2020, Bolsonaro gastou R$ 2,4 milhões. 17 anos antes, Lula, em 2003, lançou editais para abastecer o Palácio da Presidência. Nele estavam incluídos itens como: 2.000 latinhas de cerveja, 610 garrafas de vinho, 600 quilos de bombons, 1.900 vidros de molho de pimentas vermelhas envelhecidas em barris de carvalho, 7.000 pacotes de biscoitos recheados de chocolate, morango e doce de leite e mais 6.000 barras de chocolate ao leite crocante, 1.350 latas de leite em pó desnatado. Além dos itens “básicos” mencionados acima (contém ironia), seriam comprados também: louça com friso dourado nas bordas e cristais lapidados à mão, 120 colchões de solteiro, 300 colchas, 150 jogos de taças de água, vinho e champanhe, em cristal e 200 jogos de pratos e de talheres.

O ano de 2022 será um ringue, onde duas figuras populistas, por meio do desrespeito aos códigos de vestimenta, do uso de linguajar chulo e de outros elementos tidos como culturalmente inferiores em nossa sociedade, irão operar para que seus principais objetivos sejam alcançados: o apoio da população, algo crucial para se conseguir a perpetuação no poder.

Enquanto alguns utilizam do frango e da farofa para promover-se, para a grande maioria dos brasileiros, esses itens, que na nossa história recente têm sido vistos como a comida dos mais humildes, hoje, são substituídos por uma porção de vazio com acompanhamento de ossos. As estratégias de manipulação das massas têm sido as mesmas, somente os ingredientes é que foram mudados.

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