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Para que nunca mais aconteça

Cemitério Nossa Senhora Aparecida, em Manaus. Amazonas foi um dos estados mais afetados pela pandemia. Foto: Altemar Alcântara/Secom Manaus

Jean Paul Prates*

O rastro deixado pelas bombas atômicas detonadas que caíram sobre Hiroshima e Nagasaki, no final da Segunda Guerra Mundial, é muito maior e mais profundo do que o número de mortos em consequência da explosão — não há cálculos unânimes, mas reporta-se até 210 mil vítimas fatais.

A radiação das bombas norte-americanas deixou marcas profundas no território atingido, nos corpos dos sobreviventes e das gerações seguintes, na alma japonesa e na consciência da humanidade inteira. O conhecimento daquele horror tem sido fundamental para deter novas investidas nucleares.

A denúncia da maior chaga da Segunda Guerra, os campos nazistas onde foram exterminados integrantes do povo Judeu — e também integrantes do povo Rom, comunistas, dissidentes, homossexuais e portadores de deficiência — têm sido um recurso fundamental para impedir que a atrocidade se repita.

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No Brasil, infelizmente, não temos o hábito de expor nossas feridas ao Sol. Escamoteamos a triste herança da escravidão, conciliamos com o machismo e não tivemos a coragem histórica de punir os crimes da ditadura, por exemplo.

O resultado é que sangramos todos os dias com o extermínio da população negra, estremecemos com o registro de um feminicídio a cada sete horas e apenas coramos — os decentes — ao ver um torturador ser homenageado no Plenário de uma Casa Legislativa.

Nos encolhemos diante da acusação de “revanchismo” e desconversamos frente aos indícios de conivência.

Não, nós não somos um povo mau. A dor e a perplexidade que a maioria de nós sente diante do sofrimento de uma criança espancada até a morte é sincera. O luto quase coletivo pelos 362 mil mortos na pandemia é real e doído.

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Mas já passou da hora de deixar pra lá o horror, uma vez que ele sai das manchetes. Crimes têm que ter consequências para quem os pratica. Não é vingança, não é revanchismo. É cura e prevenção.

Essa é a minha expectativa com a CPI da Covid que, finalmente, vai começar a funcionar no Senado.

Para isso, foi preciso enfrentar o tsunami de fake news, as ameaças e a truculência de Bolsonaro e seus asseclas. Foi preciso recorrer à justiça. Mas o que importa é que haverá investigação.

Como senador da República e como cidadão, estou confiante que a CPI da Covid identifique cada ação e cada omissão dessa arquitetura sinistra que matou 362 mil dos meus compatriotas.

Confio que identificaremos os responsáveis, para que esses enfrentem as consequências de suas escolhas e seus atos.

Que venham à luz todas as feridas. Todas as violações, faltas e pecados. Não é revanchismo, é justiça.

Desvendar o mal é também o ponto de partida para que possamos tomar as providências necessárias para evitar a repetição da tragédia.

O dever do Senado é investigar, punir e publicizar. Para que nunca mais aconteça.

*Jean Paul Prates é senador da República pelo Rio Grande do Norte e Líder da Minoria no Senado

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