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A 3ª e as outras vias

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27.05.2022 14:11 0

Análise
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A ideia em um segundo

As chances de vitória da 3ª via no pleito de outubro são baixíssimas. Contudo, há razões para os partidos lançarem seus candidatos próprios, assim como para os postulantes lançados. Partidos como MDB ganham com a neutralidade entre Lula e Bolsonaro, assim como candidatos do União Brasil. Para o PDT, manter espaço na esquerda parece ser a estratégia perseguida. Quanto aos candidatos, talvez Ciro conte com uma oportunidade adiante, quando Lula sair de cena. Já Simone Tebet tem a chance de divulgar seu nome em escala nacional, o que é um grande ganho para uma política jovem como ela.  

Simone Tebet tenta se consolidar como a alternativa da 3ª via. Mas que chance de fato ela tem? (Foto: Roberto Castelo)

 

Circula como um mantra em alguns círculos a necessidade de uma “3ª via” na eleição presidencial de 2022. Para parte dos desejosos, trata-se de arejar um ambiente em que Bolsonaro e Lula carregam erros demais em suas trajetórias. Para outros, uma terceira alternativa tem conotação ideológica, um caminho do meio, ou mesmo pragmaticamente pode constituir um espaço no governo que tanto Lula quanto Bolsonaro não irão lhes franquear.

Mas do que se trata a 3ª Via? E quais as suas possibilidades?

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Uma janela que se fecha

Um primeiro significado para a 3ª via decorre das próprias preferências do eleitorado. 

Em maio de 2021, exatamente um ano atrás, o Ipespe trazia em sua pesquisa de intenção de voto o seguinte cenário para a opção estimulada: Lula 29%, Bolsonaro 29%, demais concorrentes 30%, além de 14% brancos e nulos. Hoje, o mesmo instituto estima os seguintes valores: Lula 44%, Bolsonaro 32%, os demais 16%, além de 8% para brancos e nulos. 

Vê-se que há 12 meses um possível candidato que conquistasse todos os eleitores que não quisessem nem Lula nem Bolsonaro poderia alcançar mais de 40% de votos. Muito difícil, mas uma oportunidade ainda aberta. Hoje, a soma total dos demais candidatos e brancos e nulos atinge 24%, menos que o patamar de votos de Bolsonaro, que se coloca em segundo na disputa. 

A menos que eleitores hoje decididos modifiquem seus votos, uma alternativa à polarização Lula-Bolsonaro não se viabiliza. 

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A disputa vai cada vez ficando mais entre Lula e Bolsonaro (Fotos: reprodução)

Esquerda-direita e a 3ª via

Uma razão estrutural que explica a dificuldade da 3ª via é o espaço exíguo para sua mensagem. Não se trata do tempo para que essa alternativa exponha suas ideias, mas sim da natureza do que pode ser exposto. 

Devido ao acirramento de ânimos, à radicalidade de muitas posições na sociedade, ao papel das redes sociais, a discussão política hoje ordena-se sobre intensas oposições. Tomada a lógica clássica direita-esquerda, a sociedade hoje mostra menos apetite para posições de compromisso na política, o centro. Ao contrário, negociação e compromisso tornaram-se alvos úteis para o ataque de candidatos que se apresentam como “nova política”. 

Assim, vê-se que nos pares de opostos liberdade-igualdade, estado-mercado, solidariedade-meritocracia, os extremos do debate já estão preenchidos por Lula e Bolsonaro. 

Ciro Gomes, que vem consistentemente mantendo-se em terceiro lugar nas pesquisas, mas sem romper a barreira dos 10% de intenções de voto, identifica-se historicamente com uma pauta mais social e com ativa participação do Estado num projeto nacional de desenvolvimento econômico. Devido a isso, tem grande dificuldade porque disputa com Lula as posições de esquerda.

Simone Tebet, lançada agora como candidata do MDB e provavelmente PSDB-Cidadania, tem uma dupla mensagem. A mensagem difícil de ser repassada é aquela das posições de compromisso, já que Tebet não se identifica hoje com as extremas, nem à direita nem à esquerda. 

A segunda possibilidade de mensagem associada a Simone Tebet tem natureza diversa: trata-se dela ser mulher e ainda desconhecida na política nacional. Embora muito atuante nos últimos tempos no Senado Federal e tendo disputado espaços importantes como sua presidência, a senadora é, para boa parte dos brasileiros, desconhecida. Tebet guarda assim um quê de surpresa que pode desdobrar-se em posições hoje não valorizadas pelo eleitorado mas que venham a importar e trazer-lhe votos. Decerto trata-se aqui de uma interpretação benigna, a qual deve povoar os próprios planos e sonhos da senadora. 

O fato de Lula nunca ter conseguido formar de fato um sucessor no PT pode acabar beneficiando Ciro Gomes no futuro (Foto: PDT)

Por que ter candidato?

Nos últimos dias surgiram interpretações bastante pragmáticas para explicar o lançamento de candidaturas como de Tebet e Luciano Bivar, por exemplo. Segundo tal interpretação, convém a alguns partidos omitirem-se na disputa Lula ou Bolsonaro, pelo menos no primeiro turno da eleição. 

Para alguns candidatos a governador, senador e deputado, uma posição de neutralidade pode ser mais benigna a seus intentos. Por exemplo, o que ganha um candidato de direita ao apoiar Bolsonaro num estado em que Lula lidera com folga? Tal candidato não ajuda Bolsonaro e nem a si próprio. E se quisesse oportunisticamente apoiar Lula, a mensagem soaria falsa e o candidato tomaria o último lugar na fila dos aliados. O raciocínio é o mesmo para candidatos de esquerda que disputem eleições em regiões dominadas por Bolsonaro.  Assim, a neutralidade tem seu valor. Vale lembrar que deputados e senadores encerram necessariamente suas eleições no início de outubro, não precisam encarar o segundo turno fazendo campanha. 

Outras explicações também valem. Por exemplo, analisa-se o caso de Luciano Bivar como uma candidatura que não receberá praticamente recursos financeiros, os quais ficarão disponíveis para o União Brasil investir na eleição de bancadas, o que segue a lógica dos fundos políticos (partidário e eleitoral) que distribuem recursos a partir das bancadas na Câmara e Senado. Se Bivar aceita o jogo, melhor para o União Brasil. 

Quanto a Ciro Gomes, o que parece em disputa é o espaço da esquerda. Embora parte da bancada preferisse ficar à vontade sob o manto de Lula, provavelmente os caciques do PDT imaginam que há um espaço na esquerda para o trabalhismo, que é diverso das posições do PT, PSOL e PCdoB. 

Outro ponto é pessoal e geracional. Provavelmente Lula, com 76 anos, trava sua última batalha política. Embora raposa, entre seus erros contam a não produção de sucessores à altura, com a possível exceção de Fernando Haddad, 59, o qual ainda precisa se firmar. Nesse cenário, Ciro, hoje com 64 anos, pode imaginar que o ocaso de Lula ainda vai lhe abrir espaço no futuro. Sendo conhecido do eleitorado, com imagem forte, pode ainda ter chances no futuro. 

Quanto a Tebet, embora a interpretação dominante a tenha colocado como candidata cristianizável para um MDB que tende a seguir interesses regionais, o raciocínio geracional faz ainda mais sentido. Com 52 anos, a senadora tem muito futuro político pela frente. Lançar-se hoje numa campanha praticamente heroica pode render-lhe uma reputação em pleitos futuros. 

Termômetro

CHAPA QUENTE GELADEIRA
Especialmente a pesquisa Datafolha, divulgada nesta quinta-feira (26) aponta muito para a consolidação da possibilidade de a eleição deste ano acabar definida no primeiro turno, diante, inclusive, da probabilidade de avanço de uma candidatura da 3ª via, como mostra este Insider. Assim, os dois principais candidatos, Lula e Bolsonaro, aceleram ainda mais a formação da suas alianças. Lula costura agora os apoios mais ao centro, e o acerto que fez com o PSD em Minas Gerais é importantíssimo nesse sentido. E Bolsonaro tenta consolidar suas bases de apoio, aproximando-se especialmente do agronegócio no interior do país e dos evangélicos.  Há, porém, alguns fatores que hoje parecem atrapalhar o avanço de Bolsonaro. O primeiro é a forte perda de apoio que ele vai experimentando em algumas bases que tinha nas polícias federais, diante da frustração da promessa que fizera no ano passado de dar reajuste salarial a essas categorias. Os policiais federais planejam fazer na próxima semana, no dia 1º de junho, quarta-feira, uma marcha sobre BrasÍlia. O Datafolha apontou ainda para perdas de Bolsonaro entre os evangélicos. E mostra como algumas de suas apostas não se concretizaram, especialmente pelo ambiente de inflação e crise econômica. Os eleitores que recebem AuxÍlio Brasil, por exemplo, se declaram majoritariamente eleitores de Lula.

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