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Quatro cenários para o pós-eleições

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20.05.2022 12:01 0

Análise
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A ideia em um segundo

O Farol volta ao exercício de construção de cenários para o período pós-eleitoral, considerando como variáveis as possíveis vitórias de Lula ou Bolsonaro (atualmente os dois candidatos líderes nas pesquisas eleitorais) e a eventualidade ou não de um golpe (qualquer tentativa de não reconhecimento aos resultados eleitorais).

 

Após as eleições de outubro, dependendo do resultado, o que será do Brasil? (Foto: Ricardo Stuckert e Alan Santos)

 

Às vezes, o Farol tem feito exercícios de previsão de cenários, tentando arriscar possibilidades e seus eventuais desdobramentos, sem, entretanto, pretender forçar a aceitação de qualquer uma delas, dada a extrema dinâmica do cenário político e a multiplicidade de suas variáveis.

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Lembrando a advertência presente nas obras de ficção, fazemos a nossa:  os cenários traçados são obras ficcionais: qualquer semelhança com a realidade é mera coincidência…  Brincadeiras à parte, na verdade propomos um exercício, convidando você a pensar por si mesmo sobre as possibilidades levantadas, aceitando ou refutando os argumentos apresentados e agregando os seus próprios, de modo a clarear um pouco o rol de futuros possíveis. 

A Figura a seguir apresenta o plano bidimensional em que são lançadas as variáveis “golpe” e “não golpe” e “Lula” e “Bolsonaro”, cuja combinação resulta em quatro cenários possíveis. 


O primeiro cenário: Lula vence e há golpe

Estamos chamando de “golpe” qualquer tentativa de invalidar ou não aceitar os resultados das eleições. Nesse cenário, Lula vence, mas Bolsonaro dá um golpe. Consideramos a possibilidade de golpe vinda exclusivamente de Bolsonaro porque, até o presente, somente ele se manifestou no sentido de não reconhecimento dos resultados eleitorais. 

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Diante desse quadro, algumas ponderações: 

– a própria vitória de Lula faz com que o movimento golpista tenha que ser mais forte. Lembrando que o golpe de 1964 foi dado em um contexto não eleitoral e perante um presidente enfraquecido (João Goulart era vice e tomou posse por conta da renúncia de Jânio).

– a vitória eleitoral de Lula tenderia a enfraquecer o envolvimento das Forças Armadas no movimento golpista – por mais que o eventual golpe venha a ter apoio nos quarteis, por conta da própria mentalidade castrense haverá os militares que se posicionarão em favor da obediência à legalidade.

Essas duas tendências antagônicas, combinadas, sinalizam para uma não sustentação do eventual golpe. No caso, Lula teria que lidar com o rescaldo de um golpe fracassado – e o ideal é que o faça o mais rapidamente possível, aproveitando o crédito eleitoral e a mobilização social de resistência à solução de força. De qualquer modo, essa perspectiva dificultaria o primeiro ano de governo do petista, que já deve ser bastante complexo por conta das variáveis econômicas. 

 

O segundo cenário: Lula vence e não há golpe 

Vitória de Lula será sinal de maior tranquilidade para o país? (Foto: PT)

– a vitória de Lula não fará desaparecer os 30% que sistematicamente apoiam Bolsonaro. Apesar da inferioridade numérica, esse percentual é suficientemente alto para incomodar qualquer governo. Além disso, Lula terá que lidar também com aqueles que votaram nele exclusivamente para tirar Bolsonaro e, portanto, não se alinharão automaticamente às propostas do novo governo. 

– em um cenário de oposição popular mais aguerrida, a variável “controle do Parlamento” ganha ainda mais preponderância. Como já argumentado em edições anteriores do Farol, como se espera que o chamado Centrão mantenha a capacidade de comando do Legislativo, o governo Lula deverá operar em lógica parecida com a qual Bolsonaro vem operando atualmente – ao Parlamento tudo, inclusive o controle da agenda. 

Essas duas tendências precisam ser contextualizadas, ainda, em cenário econômico adverso (alta dos juros, inflação global, desemprego etc.). Não é por acaso, portanto, que alguns analistas avaliem que Lula ganhar a eleição será a parte mais fácil de tudo. Evidentemente, há caminhos, como uma possível união das esquerdas com PSD e MDB para equilibrar o poder com o Centrão, além do fato de que a divisão de ministérios pode sim deixar o Centrão mais disposto ao diálogo. 

 

O terceiro cenário: Bolsonaro vence e dá um golpe

Bolsonaro já deu demonstrações de que gostaria de dar um golpe, ampliando automaticamente seu poder. A vitória eleitoral poderia servir como um impulso para que fizesse esse movimento – há analistas que avaliam que o recuo do movimento golpista do Sete de Setembro de 2021 só aconteceu por conta da percepção da falta de apoio popular. 

A hipótese ganha atratividade quando se pensa que a aliança Bolsonaro-Centrão aconteceu a contragosto do chefe do Executivo – que teve de ceder para não ser submetido a um impeachment. O eventual golpe seria uma forma de se livrar do Centrão e estabelecer o poder em novas bases, inclusive com nova Constituição. 

A variável que enfraquece essa perspectiva é uma das grandes incógnitas do momento: qual seria o nível de apoio de Bolsonaro dentro das Forças Armadas para um eventual golpe. Tanto em termos da força necessária para sustentar um golpe, quanto a capacidade de o próprio Bolsonaro se manter a frente desse movimento – há quem diga que no caso de um golpe de Bolsonaro quase que imediatamente haveria o golpe dentro do golpe, com os generais indicando um de seus pares para o comando.

Dado o golpe, Bolsonaro teria que lidar com uma situação econômica adversa e com um cenário externo também ruim, agravado por possíveis sanções econômicas (lembrando que a postura do governo norte-americano de Joe Biden, até aqui, em relação a um possível golpe, tem sido de refutação. Nesse cenário, pode ser que o fantasma que Bolsonaro gosta sempre de apresentar (a transformação do Brasil em uma Venezuela) acabe o assombrando de fato.

 

O quarto cenário: Bolsonaro vence e não dá um golpe

Se Bolsonaro vencer, está descartado o risco de golpe? (Foto: Reprodução)

A eventual vitória de Bolsonaro não fará desaparecer os eleitores de Lula, nem tampouco aqueles que votarem com o petista para eliminarem Bolsonaro. O cenário de oposição popular será ainda mais acirrado do que a polarização experimentada no atual mandato. E acontecerá em conjuntura econômica e social mais adversa.

O fôlego eleitoral de Bolsonaro, contudo, pode lhe dar força suficiente para continuar sua estratégia de minar as instituições e ir implantando um regime autoritário aos poucos, ao estilo de como morrem as democracias. Uma primeira medida, quase que certamente, seria a alteração na composição do Supremo Tribunal Federal (já ventilada na atual Legislatura), para ampliar a quantidade de membros e permitir que Bolsonaro firme uma maioria a seu favor. A convocação de uma Assembleia Constituinte (também já ventilada na atual Legislatura, pelo então líder do governo, Deputado Ricardo Barros, do PP do Paraná) pode voltar ao cenário político nacional. 

Como dissemos, as possibilidades são levantadas para incentivar o pensamento e a reflexão sobre acontecimentos e consequências, ações e seus desdobramentos, fatos e encadeamento de fatos. Esperamos que tenhamos contribuído para que você leitor amplie os seus próprios cenários.

Termômetro

CHAPA QUENTE GELADEIRA
É jogo jogado. Como mostrou este Insider, PSDB, MDB e Cidadania já decidiram que a candidatura dos três partidos que tentam a tal terceira via para a Presidência da República será a senadora Simone Tebet (MS). Essa foi a conclusão a que os partidos chegaram depois de analisar uma pesquisa quali-quanti encomendada ao Instituto Guimarães. Os partidos agora fazem costuras internas para fazer o anúncio oficial, apesar das ameaças de reação do ex-governador de São Paulo, João Doria, do PSDB. No entanto, parecem remotas, de acordo com as pesquisas, as chances de que Simone Tebet venha mesmo a animar o eleitorado. E de que consiga de fato a unidade dos três partidos em torno dela. No PSDB, João Doria pode até não levar adiante a sua disposição de reagir a indicação. Mas certamente nem ele nem o seu grupo trabalharão por Tebet. O mesmo não deverá acontecer com grupos no próprio MDB que já se definiram por Lula – caso do senador Renan Calheiros (AL) ou que ensaiam apoio a Bolsonaro. O que a pesquisa quali-quanti usada para que os partidos tendessem para Simone Tebet mostra é que ela tem mais chance de crescimento porque Doria, com alta rejeição, bateu no teto. Mas Tebet é muito desconhecida. Ou seja: vir de fato a crescer ainda é um grande desafio.

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