Ícone do site Congresso em Foco

A eleição e o calendário de Ciro Nogueira

Ciro Nogueira gostaria muito que Bolsonaro parasse de incitar as pessoas e de falar do sistema eletrônico de votação. Foto: Marcos Oliveira/Ag. Senado

Nas últimas semanas o cenário da eleição presidencial sofreu uma mudança. Cravar certezas gera emoção e, como diz o narrador de futebol, “é disso que o povo gosta!”. Contudo, o mais sensato é tratar esses fenômenos como chances, probabilidades.

Bolsonaro ganhou um pouco de força nas últimas semanas. E agora alguém já pode estar acusando o texto de lulista porque escrevi “um pouco de força”. Sim, em meados de fevereiro Lula não estava eleito, assim como Bolsonaro não estava fora do páreo. Sob a mesma lógica, as últimas pesquisas mostram que as chances de Bolsonaro aumentaram. Chances aumentarem são probabilidades, não certezas absolutas.

O quadro virou? Não, Bolsonaro ainda permanece atrás, mas dá indícios que se aproxima. E por que são indícios? Porque várias oscilações ocorreram “dentro da margem de erro”. Oscilação dentro da margem de erro quer dizer que há uma chance razoável da variação dos números dever-se apenas a questões aleatórias, não sustentáveis.

Contudo podemos simplificar dizendo: Bolsonaro e os bolsonaristas animaram-se com as mudanças que as pesquisas mostraram, e isso é importante para a campanha. A partir disso, olhemos para frente.
Em primeiro lugar o Nordeste sustenta a dianteira de Lula. Lá a questão é qual o impacto do Auxílio Brasil na realidade eleitoral. Segundo se lê, o benefício que se iniciou em novembro passado teria zerado a fila de beneficiários e passado a funcionar com força a partir de fevereiro, o que explicaria o avanço dos números de Bolsonaro em alguma medida. Por essa leitura, as datas coincidem: auxílio em alta, Bolsonaro subindo.

Publicidade

Questiona-se então até onde o auxílio gerará impactos. Ele conquistará apoios de forma contínua e crescente? Ou se deterá em algum momento em que não conquiste mais votos? E se parar nesse ponto, Bolsonaro terá enfraquecido Lula o suficiente para vencê-lo no cômputo do país todo?

O segundo ponto de atenção são os temas de campanha. Até o momento Bolsonaro tem força na discussão da corrupção e da honestidade, Lula no emprego e combate à pobreza. Qual prevalecerá? Economia é o assunto quente do momento. O relatório Focus do Banco Central aponta que há 10 semanas as previsões de inflação para 2022 só aumentam. Já a corrupção, que pode ser grande fragilidade para Lula, precisará ser colocada de volta na agenda por Bolsonaro.

A questão da comunicação nas redes sociais também desponta. Nelas Bolsonaro domina. Contudo, de 2018 para cá a Justiça tem atuado para conter a desinformação e as chamadas fake news. A vitória de Joe Biden nos EUA, sede de importantes empresas do ramo de tecnologia, também acelerou o processo de autorregulação do setor. Daí a grande importância hoje do assunto Telegram, a empresa russa de troca de mensagens que se mantinha afastada dos reguladores e semana passada foi proibida de operar no país – decisão já revertida. Nos próximos meses veremos onde a regulação dessa importante rede, principalmente para bolsonaristas, chegará.

Todo esse quadro, contudo, ganhou uma chave interpretativa por um dos líderes da campanha de Jair Bolsonaro, o ministro Ciro Nogueira. O senador agora ministro apresentou um calendário do avanço de Bolsonaro, e ao definir datas dissipa todas as dúvidas se os efeitos dessa política ou daquela ação dão resultado. No calendário de Ciro, o que há são certezas.

Publicidade
Publicidade

Conforme noticiou o Congresso em Foco semana passada, para ele, Jair Bolsonaro já empata em intenções de voto com Lula em maio. Nas convenções, que ocorrem no final de julho, o atual presidente tomará a dianteira. E no início de outubro a questão será se vence no primeiro turno ou não.

Para todas nossas dúvidas, o senador Ciro Nogueira nos brindou com um calendário de respostas. Se as coisas caminharem como ele prevê, bolsonaristas avançarão rumo ao Planalto. Caso as previsões não se concretizem, como ficarão as coisas? Diante de uma certeza posta tão claramente o seu fracasso pode soar um alerta para debandada.

O relógio eleitoral agora avança esperando maio, a primeira promessa de respostas. A campanha de Bolsonaro espera certezas. Contudo, tudo são chances e probabilidades. Certezas, só na urna.

O texto acima expressa a visão de quem o assina, não necessariamente do Congresso em Foco. Se você quer publicar algo sobre o mesmo tema, mas com um diferente ponto de vista, envie sua sugestão de texto para [email protected].

Outros artigos do mesmo autor

Sair da versão mobile