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Uma consultora telecom e a síndrome da internet cansada

08.10.2016 08:30 0

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Clique abaixo para ouvir o comentário de Beth Veloso veiculado originalmente no programa “Com a palavra”, apresentado por Elisabel Ferriche e Lincoln Macário na Rádio Câmara:

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São dez páginas de rede de pura experimentação. Nós não estamos 100% satisfeitos, mas já atingimos a marca dos 100 programas Papo de Futuro. Toda semana, é religioso! Pode chover ou bloquear o WhatsApp, mas a gente está aqui, de preferência no estúdio. Na verdade, trocamos de estúdio, fomos mudando a temática, mas ouvindo os amigos te dizer: te ouvi no Rádio. Telecomunicação não é café pequeno. Eu mesma, levei dois anos, pelo menos, gestando o programa. De fácil, apenas a voz de locutora dos tempos da Voz do Brasil, onde eu cunhava: de Brasília, Beth Veloso. Virou até jingle de música, que bordão!

E eu falei sobre o que, pergunto aos meus ouvintes-interlocutores? ehhhhhh….. bem…. mas eu gostei!!!!

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O rádio tem esse elemento de empatia. A melodia do rádio é imortal, não há Spotify que roube o brilhantismo de um belo debate no rádio! Desde os tempos em que Orson Wells assustou uma Nação inteira com uma falsa ameaça de invasão extraterrestre – os marcianos – em 1938, o poder do rádio já estava ali. E eu pergunto: rádio é telecomunicações??? Não, rádio é comunicação de um para muitos. Telecom seria…. bem ,eu disse seria, de um para um. Mas o Papo de Futuro é sim, telecomunicações, e a gente trouxe, na leveza de uma onda eletromagnética, um debate árduo, chato, difícil, sobre o drama de melhorar os serviços de telefonia no Brasil. Eu disse telefonia porque a internet, bem, a internet, como eu venho dizendo aqui, ainda é para poucos.

No país das lan houses, ou internet cafés nos países mais chiques, a gente ainda reclama do telefone que pifa, da linha que cai, da conta que salta aos olhos e assalta o bolso. Os problemas são tão diversificados que eu não estranho se o meu ouvinte nem se lembrar do que nós acabamos de comentar aqui na Rádio. Certamente, não é nada de novo para ele, porque cada uma tem a sua percepção do que precisa mudar nas telecomunicações no Brasil. E aqui eu falo não mais do telefone, nem da linha fixa, essa que quase ficou no passado, mas das mensagens online que trocamos na rede social. Opssss, trocamos não, porque eu parei!!!

De tanto respirar telecom, jantar telecom, acordo telecom e “canto” regras sobre telecom no rádio, eu me intoxiquei de rede social e me diagnostiquei na síndrome da internet cansada: meu Deus, vício em alto nível de dependência. Talvez esse seja o mais importante selo comemorativo dos 100 primeiros Papos de Futuro, e que venham muitos outros. De inteligência artificial até internet nas escolas, passando por nem mocinhos e vilões em telecom, todo mundo é vítima de um serviço de sinal e de um setor com imagem degradados, o Papo de futuro que mais me impressionou foi quando eu me segurei na pedra e rompi o fluxo informacional que me afogava no estresse de uma vida 100% conectada.

Vocês, queridos ouvintes, são heróis da resistência à ansiedade que a comunicação incessante provoca: eu sou uma mulher muito mais feliz desde que deletei o meu WhatsApp e encerrei minha conta de Facebook. Sem dúvida, na história de cada um, cabe self, cabe Twitter, cabe Instagram e um exibicionismo a granel. Mas cabe também o silêncio de quem renuncia a ser o sol, e busca apenas uma pequena flor que seja pequena e especial para mim.

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O planeta internet, minha gente, é muito povoado, e tenho lá minhas dúvidas se a gente não se sente meio sufocado na multidão. Eu parei, mas não estou mais alienada, nem alijada das letras por causa disso.

Eu apenas me pauto agora por mim mesma, e parei de bisbilhotar a vida alheia!!!! Uma vida sem memes e emojis pode ser muito interessante, pois consigo sentar no meu banquinho de meditação e conectar-me com quem mais importa no mundo: eu mesma.

Não cabe aqui listar os temas, as criticas, os choros e desabafos de consumidora, inclusive, que fizeram parte dessa primeira temporada, digamos assim, de Papo de Futuro. E eu termino este comentário então com uma lista das de razões para renunciar ao correio de mensagens digitais mais famoso do mundo, mas sem virar as costas para o nosso Papo de Futuro:

1) Você já teve problemas com telecom, e ainda terá muitos mais;
2) Ninguém pára para saber seus direitos e deveres em telecom;
3) Nem as empresas estão contentes com o governo a que se submetem, nem os consumidores com o serviço que recebem;
4) O futuro promete ser igual ao da televisão: tudo conectado, mas é tudo mesmo, até a sua noção de tempo, que vai mudar;
5) Falta debate em telecom, falta consumidor que fala, empresa que ouve; regulador q eu discuta o novo modelo;
6) Sem reclamação, as empresas não vão mudar;
7) Sem opinião pública, os gestores não vão cuidar de democratizar telecomunicações no Brasil;
8) Sim, nós sabemos, o país é grande, e os recursos são poucos, mas internet para todos foi compromisso de governos anteriores.
9) Pouca gente sabe os fundamentos, mas quase todo mundo usa telecom;
10) Talvez um dia se ativem os conselhos de usuário de telecomunicações que toda empresa deveria ter e ouvir, como quem vai à missa.

Eu termino este comentário com a mensagem de Pascal Bruckner, bem ao estilo paz e amor como fórmula máxima de conexão, perpetrada em vários comentários. Seja você mesmo, faça sua rede de relacionamento dentro e fora da net, viva com self ou com presença onde você estiver, ainda não desintegramos em poeira. E renuncie à internet e às relações degradadas, dentro ou fora da rede, como quem renuncia à cultura da “euforia perpétua”, ou seja, não somos obrigados a ser felizes, o culto da felicidade não me pertence e o consumismo, inclusive online, não é meu Deus.

Respeite os seus limites e considere que, para além da felicidade e da internet, existe sofrimento e gente de carne e osso. E, por fim, páre de bloquear as pessoas. Aprenda a lidar com as próprias frustrações e resignifique a sua dor, dignifique a infelicidade e humanize a internet. Bola para frente. E fique com a gente. Papo de Futuro não é só suplício. Só que não.

Mas se você não concorda ou quer comentar, escreva para nós: [email protected]

Coluna produzida originalmente para o programa Papo de Futuro, da Rádio Câmara. Pode haver diferença entre o áudio e o texto.

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