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"Agora o que nazismo e o fascismo voltam a bater em suas portas, os europeus os têm enfrentado relembrando o holocausto, denunciando os saudosistas. E o Brasil?", questiona ex-presidente da OAB[fotografo]Reprodução[/fotografo]

A Europa foi Hitler e Mussolini. E o Brasil?

25.09.2018 18:07 5
Atualizado em 10.10.2021 15:47

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Muitos livros têm o péssimo hábito de nominar, elogiar ou responsabilizar uma única pessoa por acontecimentos históricos, mesmo quando eles são praticados coletivamente ou por meio de um emaranhado de infindáveis atos e múltiplas ações. É como se toda a complexidade da vida em sociedade pudesse ser definida por uma só pena escritora, independentemente da criação coletiva que inspira, motiva, ensina ou colabora com o artista eleito condutor da narrativa anotada. Assim, apontam Hitler e Mussolini como escritores exclusivos das páginas mais violentas, genocidas, intolerantes, racistas e obscuras da história contemporânea.

Esses personagens são registrados no “túnel do tempo” como desprezíveis espécimes que impuseram o nazifascismo no dicionário político internacional. Indica-se que eles, por exclusivos predicados individuais, conquistaram o cobiçado “Cinturão do Terror”, especialmente por terem promovido, em suas respectivas categorias, o extermínio, o assassinato, a perseguição, a intolerância e a propaganda da supremacia racial à milhões de judeus, comunistas, trabalhadores, religiosos, negros, gays e opositores às suas ideias. Além de terem patrocinado a Segunda Guerra Mundial.

A pessoalidade pela conquista do repugnante título, entretanto, não encontra amparo na leitura mais aprofundada dessas mesmas páginas. No mundo coletivizado alemão e italiano, Hitler e Mussolini conquistaram aliados, reuniram conluiados dos mesmos pensamentos, arrebanharam ódios comuns, arremataram a paixão de milhões e milhões de eleitores, motivando-os a também entrarem no ringue do desprezo à pessoa humana tida como diferente.

Esses cúmplices, não raro, transformaram os seus punhos e garras sem qualquer pudor ou remorso, em armas postas à disposição dos ditadores que tanto amavam. E amavam porque também professavam os mesmos quereres, os ódios propagandeados e a supremacia racial declamada em versos e prosas.

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O Brasil, repentinamente, como no prelúdio da tragédia europeia, se vê inundado por mensagens de ódio, machismo, racismo, homofobia, misoginia, preconceitos regionais e toda forma de intolerância para com aqueles ou aquelas que consideramos “diferentes”. Inimigos imaginários são criados e mentiras são repetidas como verdades, fazendo ruborizar até mesmo Joseph Goebbels, o ministro da propaganda nazista.

Essas mensagens são criadas ou repassadas por vários moralistas assumidos, religiosos ativistas, pessoas comuns tidas de bem, membros de famílias respeitáveis, parte da classe trabalhadora e desempregados, fardados e não fardados, profissionais que integram a advocacia, medicina, engenharia, economia e diversos outros ramos, enfim, grande parcela da população brasileira. Não raro, a essas mensagens são acrescidos comentários pessoais, concordantes ou até estimuladores de mais ódio.

Hoje, o povo alemão reconhece que Hitler não implantou o nazismo sozinho, assim como os italianos compreendem que Mussolini não espalhou o fascismo pelo mundo comandando um exército em que era simultaneamente o único oficial-soldado. Sabem que todos eles foram eleitos, apoiados e estimulados pela maioria dos homens e mulheres de seus países. Aceitam que, embora os livros, diplomaticamente, escrevam sobre a culpabilidade dos dois vilões pelos graves crimes cometidos contra a humanidade, o nazismo e o fascismo não teriam prosperado se não tivessem habitado os corações de milhões e milhões de congregados nazifascistas. Conhecem, sabem, compreendem, aceitam e lutam para que a tragédia humanitária nunca mais se repita.

Agora o que nazismo e o fascismo voltam a bater em suas portas, os europeus os têm enfrentado, relembrando o holocausto, denunciando os saudosistas e não hesitando em promover frentes de resistência democráticas. Eles não mais aceitam a teoria da “delegação da responsabilidade pelo crime” ao líder autoritário e dizem, sem pestanejar, que os novos nazifascistas são e serão responsáveis pelos atos praticados pelo “escolhido”. Não querem mais sofrer, em consequência da permissividade ou omissão, qualquer complexo ou sentimento de culpa por terem escolhido mal.

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Tampouco querem ser outra vez lembrados por terem apoiado ou concordado com o governante enquanto a “prosperidade” sorria para cada um deles, mesmo quando sabiam ou suspeitavam de que outros morriam, sofriam ou eram agredidos para que fossem “felizes”.

E o Brasil?

 

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5 respostas para “A Europa foi Hitler e Mussolini. E o Brasil?”

  1. 13582196 disse:

    Deu no jornal português Público que é replicado pelo UOL:

    “Seis países pedem ao TPI que investigue crimes contra a humanidade na Venezuela”

    Argentina, Canadá, Chile, Colômbia, Peru e Paraguai pedem uma
    investigação aos assassínios, detenções, privações graves da liberdade,
    tortura, violação e perseguição que dizem ter sido cometidos pelo
    Governo de Maduro.

    http://publico.uol.com.br/mundo/noticia/paises-pedem-ao-tribunal-penal-internacional-que-investigue-crimes-contra-a-humanidade-na-venezuela-1845419

    • Fábio disse:

      Os que se dizem defensores da democracia silenciam criminosamente sobre Maduro, quando não o apoiam abertamente.
      Quem apoia Maduro para mim nem é gente, é psicopata.

  2. Bento Sartori de Camargo disse:

    Parabéns Cézar Britto, realmente os últimos Gestores Públicos do PT/PMDB/PSDB E OUTRAS SIGLAS COMO PUXADINHOS deixaram exatamente o que vc comentou. Chegou a hora de dar um BASTA na ameaça que vc citou. Chega de politiqueiros safados no Poder!. Continue com suas reportagens nessa mesma linha de raciocínio, está corretíssimo.

  3. Fábio disse:

    Prezado colunista, o Brasil realmente vive sob a sombra de uma escalada autoritária. Isso foi um pouco amenizado com o impeachment da pior presidente da história, mas a candidatura de Haddad está aí, a nos sugerir dias futuros sombrios.
    Se não bastasse o PT ter protagonizado o petrolão e a maior recessão econômica jamais vista, motivo para que todas as pessoas decentes repudiem tal camarilha, ainda por cima elogiam abertamente o ditador Maduro, chamando-o de democrata. O PT, que se refestela com ditaduras mundo afora, demonstrando pouco apreço à liberdade, fala em controlar a mídia caso volte ao poder, eufemismo para censura.
    Vamos evitar a ameaça autoritária votando em Bolsonaro, hoje a única candidatura viável contra o caos bolivariano.
    Em tempo: em sua visita à União Soviética, por conta do centenário do regime mais genocida da história (bem pior que os fascismos), chegou a conhecer os gulags? Eis a epítome do autoritarismo que tanto teme, tratado com abjeto relativismo moral pela esquerda brasileira.

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