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Resultado da eleição no Senado demarcará tamanho da extrema-direita bolsonarista

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Objetivo de Rogério Marinho é vencer ou enfraquecer Rodrigo Pacheco? Foto: Edilson Rodrigues/Ag. Senado

Embora não seja algo admitido publicamente por seus articuladores, a candidatura do senador Rogério Marinho (PL-RN) à presidência do Senado não tem exatamente o propósito de levá-lo à vitória. Ainda que alguns dos seus apoiadores até alimentem essa esperança, de maneira mais realista a hipótese é considerada improvável. O propósito principal de fato é tornar mais fraca a vitória de Rodrigo Pacheco (PSD-MG), que segue o nome favorito. Como um teste a estabelecer que tamanho de fato poderá vir a ter a oposição ao governo do presidente Lula no Congresso. Especialmente a oposição de extrema-direita, bolsonarista.

Se Pacheco tivesse fechados os votos dos senadores de todos os partidos que declararam apoio a ele (além do PSD, seu partido, o PT, o MDB, o União Brasil, o PDT e a Rede), isso já lhe daria 49 senadores, o suficiente para se reeleger presidente do Senado (é necessário obter a metade mais um dos 81 senadores). Mas a conta não é tão simples. O paranaense Sergio Moro, por exemplo, um dos senadores que tomará posse nesta quarta-feira (01) pelo União Brasil, já declarou apoio a Rogério Marinho.

E atingir a marca superior a 50 votos favoráveis é a marca que Rodrigo Pacheco e o governo Lula desejam. Porque é o que, calculam, daria conforto para a tramitação de temas como a reforma tributária. As contas feitas pelo Palácio do Planalto são no sentido de fazer com que Pacheco tenha em torno de 70% dos votos dos senadores, de 56 a 58 senadores.

Os partidários de Rogério Marinho trabalham para reduzir ao máximo essa pretensão. Dentro do PL, partido de Marinho e do ex-presidente Jair Bolsonaro, cálculos mais otimistas falavam na hipótese de vitória mais apertada, com 44 votos.

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Algumas contas mais realistas, embora ainda otimistas, porém, contabilizavam 35 votos para Marinho. O que levaria, portanto, a sobrar 46 votos. E há além de Pacheco um outro candidato, Eduardo Girão (Podemos-CE), igualmente oposicionista e bolsonarista, para alguns ainda mais bolsonarista e de direita que o próprio Marinho.

Na avaliação de alguns, a manutenção da candidatura de Girão é a evidência de que a estratégia seria mais enfraquecer Pacheco do que garantir a vitória de Marinho. Porque Girão na disputa tira votos que iriam para Marinho, e não para Pacheco. A não ser que Girão tenha votos suficientes para fazer com que nem Marinho nem Pacheco tenham de saída 41 votos, levando a disputa para um segundo turno.

Bolsonarista de garfo e faca

Senador Eduardo Girão presidiu audiência pública para debater a exigência do passaporte vacinal.

Manutenção da candidatura de Eduardo Girão parece ser uma evidência de que objetivo maior é enfraquecer Pacheco, não garantir a vitória de Marinho. Foto: Edilson Rodrigues/Agência Senado

Para o cientista político André Cesar, Marinho seria, na disputa um “bolsonarista de garfo e faca”,  menos selvagem do que Girão. “O que parece estar em jogo agora no Senado é medir qual será a futura musculatura do bolsonarismo. A partir da candidatura de Marinho, saber como o bolsonarismo sobrevive”.

E, nesse sentido, Marinho está colocado justamente por ser o que André Cesar chama de “bolsonarista de garfo e faca”. Porque, nessa hipótese, ele pode vir a atrair senadores não alinhados com o bolsonarismo raiz, que optem por ele por outras motivações. Caso dos senadores do PSDB, como Alessandro Vieira (RN).

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Rodrigo Pacheco não é exatamente um aliado fiel do presidente Lula. Na legislatura anterior, foi eleito em uma composição conduzida por seu antecessor, Davi Alcolumbre (União-AP). Na distribuição das verbas do chamado orçamento secreto, se na Câmara a chave do cofre ficava com o presidente da Câmara, Arthur Lira (PP-AL), no Senado reclama-se que ela ficava com Alcolumbre e Pacheco.

Alessandro Vieira justifica seu voto agora em Rogério Marinho pela necessidade de quebrar essa estrutura de poder montada por Alcolumbre e Pacheco. “Quem descreve a eleição no Senado como uma disputa entre democracia e autoritarismo está enganado ou enganando alguém”, escreveu Alessandro Vieira em seu perfil no Twitter. “A disputa é entre a permanência do grupo Alcolumbre/Pacheco na direção da casa e a eventual mudança de rumos”, justifica-se.

Ainda que essas outras motivações existam, André Cesar pondera: se Pacheco for derrotado ou se vencer enfraquecido, o grande derrotado, pelas circunstâncias, acabará sendo Lula. “Essa é a boia de salvação do bolsonarismo”, avalia. “O caminho para fragilizar a agenda governista e para tornar a vida de Pacheco no Senado uma coisa nada fácil”.

Inversão de papeis

Vice-presidente Hamilton Mourão se filiou ao Republicanos nesta quarta-feira, juntamente com a deputa Marina Santos. Foto: reprodução/YouTube

Hamilton Mourão: expoente da extrema-direita que desembarca agora no Senado. Foto: reprodução/YouTube

Para André Cesar, pela força que podem ter nomes como Hamilton Mourão (Republicanos-RS) ou Damares Alves (Republicanos-DF), há a possibilidade, na hipótese de Pacheco derrotado ou eleito de forma enfraquecida, de uma inversão dos papeis que Câmara e Senado exerceram na era Bolsonaro.

No período Bolsonaro, foi a Câmara quem deu força ao então presidente, enquanto o Senado era o cenário das suas principais derrotas. Agora, poderá ser o Senado quem dará dor de cabeça a Lula.

Enquanto isso, na Câmara operou-se um cenário surpreendente. Fortíssimo aliado de Bolsonaro durante os quatro anos de seu governo, Arthur Lira parte para a reeleição com chance de vir a ser ainda mais poderoso. Ele conseguiu fechar em torno de si um bloco que poderá vir a torná-lo o presidente da Câmara mais bem votado de todos os tempos. Há quem aposte que ele irá bater um recorde de votos. Sua composição tem ao seu lado tanto o PL de Bolsonaro quanto o PT de Lula.

Público interno

Por isso, o Senado tornou-se o único palco possível para a oposição a Lula no Legislativo. Nos últimos dias, do ponto de vista da comunicação, o trabalho em torno de Rogério Marinho assustou. Valendo-se da sua já conhecida capacidade de arregimentação digital, os grupos bolsonaristas fizeram crer pelas redes sociais que Marinho tinha uma força maior do que sua força real de fato no Senado.

“Eu tendo a ser conservador quanto a isso”, considera o cientista político Ricardo de João Braga, um dos responsáveis pelo Painel do Poder, pesquisa trimestral que o Congresso em Foco Análise realiza, sempre com 70 dos principais líderes da Câmara e do Senado. “O público da eleição do Senado é interno. Ele não se motiva pelo que acontece nas redes sociais”.

“Acho que Pacheco tem nessa disputa um elemento central, que é o apoio do presidente da República, e o apoio formal de vários partidos que dão a ele maioria”, considera Ricardo. “Creio que isso levará Pacheco a ganhar com uma margem confortável. Não acredito que Rogério Marinho possa avançar provocando assim tantas traições dentro das bancadas dos partidos que apoiam Pacheco, ultrapassando os votos da bancada de oposição mais ostensiva. Na verdade, acho que o risco é até oposto: é Rogério Marinho minguar”.

Para Ricardo, haveria ainda um outro ponto jogando contra Marinho. “No fundo, a única coisa que Rogério Marinho pode prometer é um Senado mais conflituoso, e não me parece que o Senado tenha por característica gostar de conflito”.

É onde, porém, residem as chances de sobrevivência do bolsonarismo. O bolsonarismo, ao contrário, gosta de conflito.

Ex-diretor do Congresso em Foco Análise, é chefe da sucursal do Correio da Manhã em Brasília. Formado pela UnB, passou pelas principais redações do país. Responsável por furos como o dos anões do orçamento e o que levou à cassação de Luiz Estevão. Ganhador do Prêmio Esso.

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