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Jogos olímpicos e jogo político – O legado negativo no pódio da Rio 2016

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Abordo aqui a grandeza dos Jogos Olímpicos e o jogo político apequenado que os envolvem. Competição poliesportiva como o megaevento das Olimpíadas é sempre retumbante, atraente, de repercussão mundial. Bonito de participar, para quem pode; bonito de se ver.

Por mais que os investimentos na sua produção sejam imensos, os Jogos, por si mesmos, não geram transformações substantivas na vida cotidiana das cidades e do país em que são realizados. Dependem do sistema, seja em Pequim ou no Rio de Janeiro.

Para além das 19 medalhas e do 13º lugar geral que conquistamos, reveladores de que a massificação poliesportiva do país se dá em passos lentos (menos de 11% de nossas escolas públicas de ensino médio têm quadras esportivas), é preciso colocar no pódio das nossas preocupações algumas questões:

I – O episódio de Segurança Pública mais comentado foi a falsa comunicação de assalto por parte daqueles nadadores norte-americanos idiotas. Mas durante as Olimpíadas, mesmo com os mais de 60 mil agentes mobilizados, morreram a tiros no Rio de Janeiro 19 pessoas e 32 ficaram feridas, nos primeiros dez dias do evento. Uma realidade macabra que não pode ser aceita como normal;

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II – Por mais que se destaquem os investimentos privados, a conta chegará para todos: a Light já pleiteia na Agência Nacional de Energia Elétrica (Aneel) repassar para o consumidor comum os gastos de R$ 432 milhões que teve nos jogos. A Secretaria Municipal de Obras destinou mais de 70% do seu orçamento, em 2015 e 2016, para construção ligadas às Olimpíadas. Muitas dessas obras, como a ciclovia da Niemeyer e o Viaduto do Joá, têm má qualidade, no caso do primeiro com trágicas consequências;

III – O Rio de Janeiro está com 7,3% de índice de desemprego, dos menores índices das capitais brasileiras. Mas 18 mil dos 20 mil trabalhadores da construção civil contratados para as obras vinculadas ao evento já foram dispensados – muitos, sem seus direitos assegurados – e 90 mil temporários já estão nas ruas;

IV – A mobilidade urbana melhorou setorialmente – nas regiões atendidas pelos BRT´s –, mas o modo rodoviarista (e poluente) foi reforçado.  O Metrô para a Barra, com seus 16 km, e o VLT eminentemente turístico, no Centro, não descongestionam a locomoção da massa popular mais pobre. As obras do bondinho de Santa Teresa voltaram a parar;

V – No meio ambiente, nada de novo na Cidade Maravilhosa: a Baía de Guanabara e o Sistema Lagunar de Jacarepaguá e Barra, além dos corpos hídricos da cidade, continuam todos poluídos, e recebendo dejetos diariamente. Um horror!

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VI – A moradia popular não merece atenção na Cidade de maior especulação imobiliária do país: foi esquecida no Porto Maravilha; foi reprimida na Vila Autódromo, onde restaram 20 casas, apartadas das outras 600 famílias que ali viviam, há décadas. Já a construtora incorporadora Carvalho Hosken (grande doadora de campanha eleitoral de Paes), teve ganhos de mais de R$1 bilhão com obras olímpicas;

VII – O modelo de cidade pouco democrática foi reforçado nas “arenas” das competições: os preços dos ingressos eram proibitivos para quem não pertencia a um patamar da classe média para cima.

À população em geral, sem restrições, ao menos foram abertos os shows no Boulevard Olímpico e no Parque Madureira. Tomara que, para os cariocas, fique este legado simbólico: o de espaços públicos ocupados, o de uma cidade mais de sentimento do que de cimento, menos excludente.

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Formado na Juventude Estudantil Católica, participou ativamente do movimento comunitário do Rio de Janeiro nos anos 80. Professor de Prática do Ensino de História da Universidade Federal do Rio de Janeiro (UFRJ), é autor de 25 livros. Foi vereador e deputado estadual pelo PT. Está em seu terceiro mandato na Câmara dos Deputados (Psol-RJ). No pleito de 2010, foi o segundo deputado federal mais votado do estado, com 240.724 votos.

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