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Os conservadores querem controlar nossos corpos por temor à felicidade

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Entre junho e julho, pré-candidaturas de pessoas da comunidade LGBT+ passaram de 125 para 222, com São Paulo liderando o ranking.[fotografo]Elza Fiuza/ABr[/fotografo]
Entre junho e julho, pré-candidaturas de pessoas da comunidade LGBT+ passaram de 125 para 222, com São Paulo liderando o ranking.[fotografo]Elza Fiuza/ABr[/fotografo]

A defesa da liberdade dos nossos corpos continua sendo o centro das nossas lutas, nunca descansamos e estamos distante disso. O conservadorismo deseja o controle total dos nossos corpos, e nossa liberdade representa uma ameaça concreta a esse sistema de exploração consolidado e a luta de classes ganha um novo sentido.

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A batalha pelo direito de ser e de amar também é parte dessa luta. Somos todos oprimidos. Afinal de contas, o trabalhador continua sendo explorado por esse sistema que se adequou ao novo momento e modernizou as suas formas de exploração, e nós continuamos escravizados, devendo cada vez mais ao capital que se reestruturou de uma forma em que todos nós cooperamos para a sua manutenção.

O senhor do engenho foi substituído pelos banqueiros. Mudamos só o que devemos, e o que ganhamos apenas mantém a nossa subsistência. Eles continuam a exercitar um elo de dominação, assim como se fazia na era “pós”-escravidão. Além de ter a nossa mão de obra explorada, acumulam-se dívidas impagáveis, nos tornando mais devedores e explorados.

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Bom, a liberdade é acompanhada de felicidades e não existe felicidade sem liberdade. A  felicidade é um perigo. Belchior já dizia que “a felicidade é uma arma quente”. Felizes, somos capazes de virar o mundo. Todas as grandes revoluções estiveram ligadas à busca pela felicidade ou sob o estímulo que ela provoca. Por isso os conservadores são contra a legalização da maconha, defendem o armamento e querem impedir que a nossa sexualidade seja vivida. Viver a sexualidade liberta! Que consequência a legalização de uma planta causaria se não ao próprio indivíduo que usará? Sobre as bebidas alcoólicas, não foram capazes de justificar por que ela é legalizada no Brasil, mesmo contribuindo para altos índices de mortalidade no trânsito e para vários males à saúde. O seu consumo, ainda assim, é defendido pelos ditos defensores da família, os conservadores.

Todos esses debates estão atrelados entre si porque têm relação com a liberdade do  corpo, para seguir como quiser, das diversas formas e jeitos, tanto pela forma que se coloca no mundo quanto pela forma que deseja amar. Essa liberdade com o corpo também é indutora da felicidade, e a felicidade sempre esteve no alvo do conservadorismo. Os exploradores são conservadores e não querem que o mundo evolua. Evolução significa tirá-los de um local confortável de exploração e discutir as questões que  dividem de fato as pessoas. O crescimento do conservadorismo sempre esteve ligado ao crescimento das desigualdades. Uma pequena parcela social conservadora alcança riquezas, apartada do conjunto da sociedade, enquanto significativas populações afundam na mais extrema pobreza.


O debate sobre as liberdades individuais e a sexualidade não é entendido ainda nem mesmo por parte considerável da esquerda, que acredita que o identitarismo tira o foco da luta principal, que deveria ser contra o sistema opressor e o capital. Avançamos mais na esquerda, mas não existe unanimidade, e a disputa interna é intensa.

A luta pela liberdade por gerações contou com a rebeldia jovem contra um mundo cruel e desigual. Os conservadores usaram os seus líderes e a internet, que pela facilidade de uso e por sua ausência de filtros a princípio parecia ser um bom instrumento para comunicar e fortalecer a revolução e para visibilizar as desigualdades e a falta de liberdade no mundo. Mas ela se tornou instrumento para a propagação do ódio e das “vantagens de um mundo sem liberdade”. É assustador e insuportável assistir jovens defendendo o retorno a regimes autoritários, retrocessos na liberdade, defendendo o não debate à sexualidade nas escolas, formando silêncios e criando tabus sobre questões que já haviam sido superadas.

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A luta será intensa e teremos de ter força para enfrentar o que vem por aí ou esperar alguma força do universo para acordar os que dormem ou estão encantados com o canto da sereia do mal que não suporta o barulho que a nossa felicidade provoca!

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Michel Platini é tradutor de LIbras e fundador do primeiro sindicato da categoria no Brasil. Presidente do Centro Brasiliense de Defesa dos Direitos Humanos (CentroDH), é o coordenador da Aliança Nacional LGBTI no Congresso Nacional e é ativista de direitos humanos.

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