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Luiz Nishimori (PR-PR) apresentou relatório que facilita regras para agrotóxicos

Relator do projeto dos agrotóxicos é dono de empresas do setor

12.07.2018 14:36 14

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Amanda Audi e Thallita Essi *

Relator do projeto de lei que flexibiliza regras para a liberação de agrotóxicos, o deputado Luiz Nishimori (PR-PR) está por trás de duas empresas que vendem venenos agrícolas. Sediadas em Marialva, no interior do Paraná, a Mariagro Agricultura e a Nishimori Agricultura comercializam e prestam serviços relacionados a sementes, fertilizantes e “defensivos fitossanitários” (o nome usado para amenizar o peso negativo do termo “agrotóxicos”). 

O parlamentar fez carreira como produtor de soja na região de Marialva antes de entrar na política. Ele nega que será beneficiado caso o projeto vire lei.

Uma das empresas de Nishimori, a Mariagro Agricultura, chegou a vender um volume tão grande de agrotóxicos que bateu a meta de vendas estipulada pela Syngenta, multinacional que fabrica defensivos. Segundo o deputado, sua empresa teve de entrar na Justiça para receber o prêmio em dinheiro. O processo ainda está em aberto. Para Nishimori, a abertura do processo indica sua isenção com relação a grandes indústrias de agrotóxico.

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Os dois empreendimentos estão em nome de familiares de Nishimori (a mãe, a esposa e os filhos), de modo a não serem vinculados diretamente a ele. O deputado tampouco precisou listar as empresas na declaração de bens exigida pelo Tribunal Superior Eleitoral (TSE).

Ambas as empresas estão ativas e constam em relatório produzido pela Agência de Defesa Agropecuária do Paraná (Adapar), de 2014, que listou estabelecimentos que se inscreveram para receber permissão para o comércio de agrotóxicos. Naquele ano, Nishimori já era deputado e membro da bancada ruralista em Brasília.

A última versão da lista, de 2017, não tem o nome dos empreendimentos. Porém, as empresas continuam sendo reconhecidas por comerciantes agrícolas da região como revendedoras de agrotóxicos.

Nishimori diz que suas empresas pararam de vender agrotóxicos “há muito tempo, uns 20, 30 anos”. Quando questionado pelo Congresso em Foco sobre a presença na lista de vendedores de agrotóxicos de 2014, há quatro anos, o deputado desconversou e quis encerrar a entrevista.

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“Desde que entrei na política, em 2002, que não vende [agrotóxico].  Eu acho que vocês estão distorcendo”, disse. “Minha vida pessoal não tem nada a ver com a atuação parlamentar”, continuou o deputado.

Marialva, cidade de Nishimori, de forte base rural, é uma das que mais utilizam defensivos no Paraná. Apenas em 2015 foram vendidos 1.332 toneladas de agrotóxicos no local, o décimo maior volume entre os 399 municípios do estado.

Na última campanha, o parlamentar recebeu doações de R$ 30 mil da Cocari (Cooperativa Agropecuaria e Industrial) e outros R$ 30 mil da Integrada Cooperativa Agroindustrial. Ambas as empresas fazem parte da Lista de Comerciantes de Agrotóxicos da Adapar. Ao todo, o deputado recebeu R$ 2,5 milhões entre doações e transferências.

O projeto

Nishimori foi o responsável por analisar e emitir um parecer sobre o projeto de lei número 6.299, apresentado em 2002 pelo então senador Blairo Maggi, hoje ministro da Agricultura.

O texto ficou adormecido por anos, até que voltou a tramitar de modo acelerado neste ano. O pano de fundo é o lobby da indústria e de produtores, que colocava a aprovação da proposta como contraponto ao apoio a pautas de interesse do governo, como as reformas econômicas. Os ambientalistas tacharam o projeto de lei de “PL dos Venenos”.

A proposta relatada por Nishimori muda pontos-chave da Lei de Agrotóxicos, de 1989. Entenda:

  • Muda a definição do que é “aceitável” nos venenos. O texto mantém a proibição de produtos que podem causar riscos graves à saúde, mas os danos teriam que ser “inaceitáveis”. Fica em aberto quais seriam os riscos que se encaixam nessa categoria.
  • Limita o prazo para que órgãos competentes avaliem e liberem substâncias usadas em defensivos para de 30 a 180 dias. Também cria a figura do “registro provisório”.
  • O Ministério da Agricultura passa a centralizar a aprovação de agrotóxicos. Hoje, a competência é dividida entre Ministério da Agricultura, Ibama (Instituto Brasileiro do Meio Ambiente e dos Recursos Naturais Renováveis) e Anvisa (Agência Nacional de Vigilância Sanitária). Os dois últimos são vinculados aos ministérios do Meio Ambiente e da Saúde.
  • Passa a chamar agrotóxicos de “defensivos fitossanitários”.

Os defensores do projeto, incluindo Nishimori, afirmam que as normas vão acelerar e modernizar processos e trazer mais segurança alimentar. Para opositores e entidades ligadas à saúde, as alterações colocam em risco a saúde da população e podem permitir o uso de substâncias potencialmente perigosas na produção agrícola.

O projeto foi aprovado em 25 de junho pela comissão especial que analisou o tema –e tem, entre seus 26 integrantes, 20 ruralistas. Agora, segundo Nishimori, a intenção é que o projeto seja debatido em breve no plenário da Câmara.

O deputado é ainda relator de 15 projetos, sendo oito ligados a interesses da bancada ruralista. Um deles é que limita a venda de produtos orgânicos em algumas situações, que causou polêmica nos último dias.

“Musa do Veneno”

Após ficar contrariado com as perguntas do Congresso em Foco sobre as empresas, o deputado encontrou a colega Tereza Cristina, presidente da Frente Parlamentar da Agricultura e apelidada de “Musa do Veneno”, devido ao trabalho que fez para aprovar o projeto na comissão especial. Eles se abraçaram, e Nishimori reclamou com a colega sobre a situação.

A deputada concordou. “Hoje todo mundo pensa que o voto da gente é vendido. Não se pode destoar. As pessoas medem a gente pela régua errada”, respondeu Tereza Cristina.

Veja como cada deputado votou no projeto que facilita o uso de agrotóxicos

14 respostas para “Relator do projeto dos agrotóxicos é dono de empresas do setor”

  1. Leônidas Descovi Filho disse:

    Reportagem imparcial e esclarecedora. Parabéns a equipe. Abs

  2. MrFortalezaDigital . disse:

    Legislando em causa própria. Enquanto isso o povo vai morrendo envenenado no país que mais usa agrotóxicos no mundo. Todos os defensores de agrotóxicos deveriam beber todo dia no café da manhã um copo do veneno só pra mostrar ao mundo que não faz mal.

  3. Fábio disse:

    As jornalistas que assinaram a matéria perderam a oportunidade de fugir ao clichê. O agrotóxico é como aquela droga medicinal que em dose excessiva é nociva, mas que controladamente nos salva.
    Sem o uso de agrotóxicos e fertilizantes, tão demonizados, seria impossível a produção alimentar em larga escala e a necessidade de desmatamento para a agricultura seria consideravelmente maior.
    Os grandes jornalistas buscam ver o mundo de forma multifacetada, com suas contradições. Agrotóxicos são bons e ruins simultaneamente, algo que nem de longe a matéria conseguiu captar.

  4. Jorge Nicolau disse:

    Qualquer um, para comentar aqui, deveria ler antes o livro do Nicholas Vital, “Agradeça aos agrotóxicos por estar vivo” onde ele mostra com fundamentação a visão científica da questão, onde o mesmo princípio ativo, quando usado em humanos é chamado de remédio e, quando usado em plantas é agrotóxico entre muitas outras coisas.

  5. Bruna Hartmann disse:

    Quem diria!! Nunca imaginei
    Pensei que era um projeto de autoria do PSOL, aquele partido de comunistas que querem acabar com o futuro do nosso país e de nossas criancinhas

  6. GALO disse:

    Reduzir drasticamente o número de senadores, deputados federais, estaduais, vereadores, essa corja custa muito caro ao país.

  7. Aldair Araújo disse:

    Mais um legislando em causa própria.

  8. Danilo Santos disse:

    Nada mais justo, o moço é da área, sabe qual veneno é melhor pra gente comer… Esse povo vê maldade em tudo! Ah sim, e nem são agrotóxicos, viu? são “defensivos fitossanitários”, que chique … 🙂

    • Leandro Xavier disse:

      Ele tem uma revenda de defensivos, essa lei é para as empresas que fabricam os produtos.
      é agrotóxico quanto usado de maneira errada.
      O Brasil é um pais de desinformados ´pra não falar burros`

      • julio disse:

        Nosssssssa!!!!!!! Que inteligência!!!!!!!!!!!

      • Robson01 disse:

        Então Sr. Inteligente, se ele comercializa e liberarem mais produtos, quem o sr. acha que vai lucrar? Eu que irei me entupir de veneno que não sou. Viva os “espertos” do veneno desse país.

      • Erwin Schrodinger disse:

        Quer dizer que “só” são AGROTÓXICOS quando usados de maneira errada?! Sei, sei…tome uma dose de Furadan (ou qualquer outro CANCERÍGENO) de MANEIRA CERTA e depois vem aqui dizer como se faz isso.

      • Danilo Santos disse:

        Também acho leandro, uma pessoa não saber o que é sarcasmo nem ironia, só sendo uma besta quadrada mesmo… 🙂

  9. Valdir disse:

    O Brasil só tem um jeito. Porrada!
    Porrada nesses vagabundos todos!

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