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Lula faz live semanal para discutir a semana e conjuntura política e econômica. Foto: José Cruz/ Agência Brasil

Governo

O desafio do terceiro governo Lula

10.05.2023 08:41 0

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O desafio do presidente Lula neste terceiro mandato é repetir, em condições adversas, o que fez nos dois primeiros, nos quais combinou, pela primeira vez no Brasil, crescimento econômico, redução de desigualdades e equilíbrio das contas públicas. A diferença é que a herança deixada por Michel Temer e Jair Bolsonaro é infinitamente pior que a deixada por Fernando Henrique Cardoso, a começar por marcos regulatórios que reduziram ou mesmo retiraram a capacidade do governo de fazer entregas, como as restrições fiscais e o engessamento das estatais para contribuírem com as políticas públicas.

Os governos Temer e Bolsonaro, além das amarras fiscais e das restrições impostas à atuação das empresas estatais, desregulamentaram direitos, desmontaram a máquina pública, e desativaram os mecanismos de fiscalização e controle do Estado – especialmente em questões trabalhista, ambiental e de direitos humanos – e também entregaram a gestão do orçamento aos partidos fisiológicos do Congresso Nacional, que ganharam um poder extraordinário sobre o Poder Executivo.

Além disto, neste terceiro mandato, o presidente Lula herdou um país dividido e com excesso de demandas em todas as áreas de atuação do Estado, além do Congresso e de setores de mercado viciados pelas concessões feitas pelos governos anteriores, que agradaram a ambos em troca de apoio para concluir seus mandatos.

De um lado, as concessões feitas por aqueles governos aos partidos em troca de apoio no Congresso, como o aumento exagerado dos fundos eleitorais, partidários e das emendas parlamentares, inclusive com o orçamento secreto, e a entrega da gestão do orçamento público aos partidos do Centrão, deram um poder extraordinário a essas forças políticas, majoritariamente formadas por partidos conservadores e controlados pelo mercado, fazendo delas um vetor de resistência à aprovação e implementação da agenda progressista referenda pelas urnas na eleição presidencial de 2022.

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De outro, a desregulamentação da economia e das relações de trabalho, combinado com a desativação da fiscalização do Estado em todas as áreas naquele período, deram ao mercado o discurso de que o país precisa de previsibilidade e de segurança jurídica e que, portanto, a revisão de marcos legais, mesmo aqueles completamente absurdos, como o voto de qualidade ao contribuinte no CARF, caracterizaria ausência de incentivo ao investimento ou perseguição ao mercado. É um desafio e tanto.

Para fazer as entregas que prometeu na campanha, o presidente Lula terá que superar muitos obstáculos, sobretudo de natureza política. E, nesse particular, precisa reforçar dois setores: a comunicação e a coordenação de governo, pois na área econômica já conta com uma equipe de qualidade – Fernando Haddad, na Fazenda; Simone Tebet, no Planejamento; e Geraldo Alckmin, no Desenvolvimento, Industria, Comércio e Serviço – e que possui boa aceitação no mercado, na mídia e no Parlamento, apesar da postura divergente do presidente do Banco Central, indicado pelo governo anterior para um mandato de quatro anos, que se encerra em dezembro de 2024. 

A comunicação tem sido um ponto fraco do governo, tanto no método quanto no conteúdo. No método, tem priorizado mais a resposta à oposição do que as realizações de governo, além de não ter sido criativa na retomada de programas sociais, que voltaram com os mesmos nomes e com carimbo de coisa antiga. E no conteúdo, anúncios têm sido feitos por ministérios setoriais sem a coordenação da Casa Civil, da Secom e da Presidência da República, sendo posteriormente desautorizados, com enorme desgaste para a unidade e credibilidade do governo. 

Uma forma de resolver isto seria, de um lado, o Presidente da República determinar que nenhuma iniciativa sobre  política pública pudesse ser anunciada sem uma análise prévia de sua compatibilização com as diretrizes de governo e de sua viabilidade política e jurídica, o que pressupõe passar antes pela Secretaria de Relações Institucionais e pelas Secretarias Especiais da Casa Civil de Análise Governamental e Assuntos Jurídicos e, de outro, priorizar a divulgação da agenda positiva de realizações do governo frente à agenda negativa de resposta à oposição, para reforçar a proatividade do governo, como aconteceu com a recriação do Conselhão com o acréscimo da palavra “Sustentável” e no anúncio de antecipação do 13º dos aposentados e pensionistas do INSS, que ajudam a injetar recursos na economia.

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Já a coordenação eficiente do governo se impõe basicamente por duas razões: a transversalidade temática entre os diversos ministérios, para que todos falem a mesma linguagem, e a necessidade de respostas tempestivas às demandas e indagações do Parlamento, cuja reação tem sido mais em decorrência de desencontro no governo do que propriamente de uma hostilidade às propostas governamentais. Demonstram isso o caso das MPs sem conversa prévia com partidos da base e a demora nas explicações a respeito dos decretos de saneamento básico, que a Câmara entendeu como desdém dos ministérios demandados: Casa Civil e Cidades.

Com uma composição muito próxima daquela vivenciada durante o governo Bolsonaro, inclusive com a continuidade da direção das Casas, o Congresso ganhou muito poder nos últimos anos e vai precisar de uma atenção especial por parte da coordenação de governo. Além das bancadas informais, que possuem muito poder de pressão no Congresso – agronegócio, evangélica e segurança – o diálogo mais urgente é com os partidos políticos, que estão organizados em quatro grandes blocos no interior da Câmara dos Deputados: um composto informalmente pelos partidos de esquerda (Federações PT/PCdoB e PSol/Rede ), um integrado formalmente por forças do Centrão e partidos de centro-esquerda (União, PP, Federação PSDB/Cidadania, PDT, PSB, Avante, Solidariedade e Patriota), outro constituído formalmente pelos partidos MDB/PSD/Republicanos/Podemos/PSC, e, por fim, o bloco informal de oposição, formado basicamente pelo PL e o partido Novo. O PL possui pelo menos 60% de sua composição que não é fundamentalista nem bolsonarista.

A Secretaria de Relações Institucionais, para fortalecer a relação com o Congresso, vai precisar estreitar mais os laços com os partidos da base de apoio ao governo, coordenando melhor o contato com os líderes do governo e dos partidos da base, mas também vai necessitar ser empoderada e receber reforço em sua estrutura, afinal sua atuação inclui, além da interlocução com o Poder Legislativo, a relação com os entes federativos e, por intermédio do Conselhão, com setores do mercado e da sociedade civil. Esse fortalecimento deve envolver a capacidade de mobilização de parlamentares da base governista para o enfrentamento em plenário com intervenções, discursos e pronunciamentos em favor do Governo, de forma a reduzir o predomínio dos discursos oposicionistas nos veículos de comunicação do Congresso, como ocorre com a Voz do Brasil, em que parlamentares de Oposição, com frequência, dominam o tempo com virulentos ataques ao Governo, até mesmo apelando a fake news.

 Para o presidente Lula repetir no atual mandato a performance dos mandatos anteriores, o governo vai precisar rever seus métodos e melhorar a coordenação intergovernamental, bem como a comunicação interna e externa do Poder Executivo, inclusive com unidade de linguagem e prioridade na divulgação de ações governamentais. Sem uma relação cooperativa do Congresso, dos entes subnacionais e do empresariado, o governo terá dificuldade na aceitação e implementação de sua agenda prioritária.

 

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