Publicidade

Plenário da Câmara dos Deputados, durante sessão virtual por conta da pandemia de covid-19 [fotografo] Najara Arujo [/fotografo]

Juristas veem “jabuticaba” e “revanche” em PEC que dificulta prisão de parlamentares

25.02.2021 12:20 29

Publicidade

A Câmara dos Deputados aprovou nesta quarta-feira (25) a admissibilidade de Proposta de Emenda à Constituição 3/2021, que amplia os conceitos de imunidade parlamentar.

A PEC tem autoria de quase 200 deputados de diferentes legendas e passa a tramitar após as ofensivas da Justiça contra os deputados Flordelis (PSD-RJ), afastada da função acusada de matar o marido e Daniel Silveira (PSL-RJ), preso por ofensas ao Supremo Tribunal Federal (STF).

De acordo com o ex-presidente da Ordem dos Advogados do Brasil Cezar Britto, a PEC é importante mas traz um “defeito grave” que é a “urgência desnecessária com ares vingativos”. A matéria não passou pela Comissão de Constituição e Justiça (CCJ) e somente ontem foi designada a relatoria da deputada Margarete Coelho (PP-PI).

“Independentemente do seu mérito ela é editada e confessada como uma revanche e isso não é bom para o equilíbrio democrático. O sentido dela, que é preservar a interdependência dos Poderes e a harmonia, pela pressa, desarmoniza”, diz.

Publicidade

O deputado Fabio Trad (PSD-MS), que também é advogado, segue a mesma linha do ex-presidente da Ordem. “Não se muda a Constituição como se troca de roupa, você pode observar que há projetos de resolução que são proposições de menor diversão legislativa que tramitam há quatro meses, e uma PEC, que é a maior das alterações legislativas, está sendo votada em três dias sem ser submetida às comissões: CCJ e especial. Por isso ela vem com defeitos, lacunas, aparência de jabutis”, observa.

Para o delegado e professor da Escola da Magistratura do Paraná Henrique Hoffmann, a maioria das medidas acabam sendo “apenas escolhas políticas legítimas”, ainda que haja pontos que precisam ser melhor analisados no texto. “Algumas das alterações na Constituição estão inovando de uma forma um pouco perigosa”, avalia.

A PEC traz nova redação para o artigo 53 da Constituição, que determina que deputados e senadores são invioláveis, civil e penalmente, por quaisquer de suas opiniões, palavras e votos, e que serão submetidos a julgamento perante o Supremo.

Um dos pontos mais criticados por Fabio Trad e outros parlamentares contrários ao texto é a possibilidade da retroatividade de alguns dispositivos que beneficiariam deputados que hoje estão afastados do mandato ou presos.

Publicidade
Publicidade

O texto diz “que não mais poderá ser processado criminalmente, ou seja, preso, o deputado por suas palavras, opiniões e votos. O deputado Daniel Silveira foi. Se houver essa modificação, ela vai retroagir e evidente que haverá extinção imediata da ação penal no Supremo. Ele vai tentar um habeas corpus com a consequente revogação da prisão, e eu me pergunto isso é ético? Tem correspondência com os anseios populares? Será bom para a casa? Não poderá ser visto como uma armadilha que foi preparada pelos deputados? Uma emboscada jurídica?”, questiona Trad.

Outra questão levantada pelo deputado e que deve ser modificada por meio de emenda apresentada pelo partido Novo, é que os crimes previstos na PEC suscetíveis de prisão em flagrante não preveem os crimes contra administração pública.

“Significa dizer que se um deputado for flagrado com uma mala com um milhão de dólares fruto de corrupção, derivado de uma ação controlada da polícia que o investigou, vão recolher a mala, ele vai assinar um papel e tchau. Isso é inconcebível”.

Mais um ponto de discussão é sobre a custódia do parlamentar eventualmente preso, que pelo texto, não ficaria mais sob os cuidados da polícia, mas sim da CCJ. “Vai ter uma cela na Câmara? Vai ser no térreo, no estacionamento, onde é?”, diz Trad.

Além disso, o texto prevê ainda alteração no rito sobre buscas e apreensões feitas nas residências e gabinete dos parlamentares. Se aprovada a PEC, essas diligências só serão convalidadas se o plenário do Supremo posteriormente ressaudar, caso contrário, toda a medida será em vão. “Até a convalidação do STF, todos os bens apreendidos ficarão acautelados na Câmara, ou seja, ninguém poderá usar os bens até o Supremo dizer que a medida foi legal”.

De acordo com Henrique Hoffmann a competência absoluta do STF para decidir sobre busca e apreensão “acaba indo contra o entendimento sobre o foro privilegiado. Só tem que atuar o STF quando for crime no exercício da função ou em razão dela, não o STF ficar tomando decisão em toda e qualquer decisão sobre parlamentar”, diz.

De acordo com Cezar Britto, a PEC “traz jabuticabas em um texto que não tem relação com a prisão”. Para o advogado, a iniciativa relativiza outra matéria que foi objeto de iniciativa popular, a Lei da Ficha Limpa.

Nesta quarta-feira (24) o Movimento de Combate à Corrupção Eleitoral (MCCE), composto por entidades e organizações da sociedade civil condenou a PEC. “O texto prevê que só haverá inelegibilidade com a observância do duplo grau de jurisdição, o que é um ataque direto a um dos mecanismos mais eficientes da Lei; a condenação em grau colegiado”. O MCCE diz ainda que a Lei da Ficha Limpa “vêm sofrendo por parte de parlamentares e partidos políticos, cujo o objetivo é o abrandamento da Lei para benefício próprio”.

Na visão do advogado João Pedro Mello, o projeto não tem como objetivo blindar os parlamentares. “Neste momento da história política e jurídica do país, eles vêm assegurar uma estabilidade institucional”, defende.

Nesta quinta-feira (25), o presidente da Câmara, Arthur Lira (PP-AL), disse que o projeto não busca o corporativismo parlamentar, mas “garantir proteção a voz e voto”. “Essa inviolabilidade tem que ser mantida. O Congresso Nacional vota matérias aqui contra organizações criminosas, contra grupos com interesses econômicos muito fortes e o parlamentar precisa sim ter a imunidade preservada”, afirmou.

De acordo com fontes ouvidas pelo Congresso em Foco, apesar de ter sido aprovada a admissibilidade ontem, o mérito só deve ser aprovado caso a relatora acate as emendas sugeridas pelos partidos.

> Câmara quer dificultar prisão e afastamento de parlamentares

29 respostas para “Juristas veem “jabuticaba” e “revanche” em PEC que dificulta prisão de parlamentares”

  1. Ernesto Freire Pichler disse:

    Querem transformar imunidade em impunidade.

  2. Paulo disse:

    Em toda minha vida nunca vi uma gestão presidencial com tantas irregularidades ao mesmo tempo, ou seja, não é uma democracia, um presidente adorador de um torturador, já deu sinais claros de ser um ditador, ditador corrupto, encheu de capangas em sua volta, utilizando a máquina do Estado, vetou a prisão em 2ª instância, sinais claros e evidentes de ser um genocida, já tentou desobrigar a população de usar máscaras na pandemia, um autentico ditador, adorador do maior torturador da ditadura militar. Para isso usa das prerrogativas do artigo 142 da constituição onde o presidente é o comandante supremo das Forças Armadas, escrito posterior à ditadura militar para fortalecer a figura do presidente.
    Portanto não espere nada DE BOM de um autentico DITADOR, CORRUPTO!

    • RômuloJ. Vieira disse:

      Calma rapaz!…Não sou advogado do presidente,muito pelo contrário,mas essa encrenca não é dele, vc escreveu ditador aí,mas veja se não é o STF que está se portando como tal!…Diz aí qual ação concreta desse presidente que foi ditatorial?

      • Paulo disse:

        Caro Rômulo, Isso é só o seu ponto de vista.

        Antes fosse só ditador, mas ele pensa como tal, e isso está claro, pois ele é um adorador do torturador da ditadura. Enche os postos de ministros com militares de baixo clero, mesmo porque o Comandante do Exército já sinalizou que jamais será guarda pretoriana do Governo Bolsonaro.

      • Ernesto Freire Pichler disse:

        Mil vezes melhor a ditadura da Lei que a desses bozofascistas.

  3. lucas dean disse:

    A CULPA E DO STF…QUE PRENDEU UM DEPUTADO ILEGALMENTE….SEM OBEDECER O RITO PROCESSUAL.

    • Flávio G. disse:

      Ah, sim. STF manda prender um congressista que incita a subversão da ordem democrática e o próprio STF é o culpado do Congresso tentar atribuir a seus membros uma condição de intocáveis que nem os presidentes da república possuem.
      Bom, se for assim, o próprio STF se redimirá se encarregar-se de declarar a inconstitucionalidade desse absurdo! Pena que o povo não vá deixar de votar nos congressistas que votem a favor dessa vergonha.

    • Ernesto Freire Pichler disse:

      Prendeu legalmente, um criminoso em flagrante. E o rito processual foi cumprido, com a confirmação pela Câmara.

  4. Jose Adauto Minerva disse:

    evidente que essa PEC é para brindar os políticos. legislando estritamente em causa própria. VERGONHOSO

  5. bonfim0Alex, o pacificador disse:

    Pelo amor de Deus. Isso é um retrocesso. Foi para isso que levaram seu Lira à presidência? O voto é importante, mas o eleito, etc. NÃO pode estar acima da LEI! ( Aplica-se a civis e militares) . Basta de abusos. Ou o povo sem Covid19 ou com Covid19 se revolta e vem REVOLUÇÃO popular!

  6. Natanael disse:

    Muito bom saber se esses deputados, que buscam impunidade, conseguirão imunidade contra sua rejeição nas urnas.

  7. Paulo disse:

    Já estamos desde 2019 em governo de exceção. Só não vê quem não quer.

    Afinal o quê poderia se esperar de um governo de cleptocratas.
    O artigo 142 da Constituição foi escrita após a Ditadura, e portanto já era esperado que aumentasse demasiadamente os poderes de um Presidente em detrimento dos militares.
    Agora estamos debaixo de um governo adorador de um torturador da ditadura.
    Portanto A Democracia já não existe, estamos em plena Ditadura. Será que ainda não deu para notar isso ?

  8. 13582196 disse:

    Ah, então o Daniel Silveira foi usado pelos congressistas como de boi de piranha!

    kkkkkkkkk

  9. Fabio Martins disse:

    Cadê o GADO de Bolsonaro agora pra pressionar seu mito a vetar um absurdo desses? Vamos lá! Ou vão ficar fazendo arminha com as mãos e passar pano pra essa bandidagem? TODOS os políticos, de TODOS os partidos estão querendo essa PEC pra ontem. Ou o presidente veta ou é CONIVENTE

  10. Reinaldo Monteiro disse:

    Como disse o Sinistro dom meio ambiente….. ESTÃO PASSANDO A BOIADA, independente que tenhamos mais 240 mil mortos, ####Farinha pouca, meu pirão primeiro#### e a população assistindo tudo isso de camarote inerte…… caminhamos para uma Venezuela….. ordem do caos quanto pior melhor? Para que melhor?……..!!!!!

  11. Jorge Teixeira Carneiro disse:

    Em vez de diminuir. o Congre$$o aumenta essa indecência que é a tal de ”imunidade para-lamentar”.
    Tudo em causa própria.
    Olhem o nível do nosso Para Lamento.
    E não temos nem militares decentes mais como em 1964.

    • Ernesto Freire Pichler disse:

      Milicos nunca são decentes. Em 64 obedeceram o Comando Sul, que ficava no Panamá, para acabar com a democracia e impedir e eleição de Juscelino.

      • Jorge Teixeira Carneiro disse:

        Juscelino era ladrão sócio de empreiteiras igual ao Lula.
        Nem o roubo com empreiteiras foi o PT que inventou.
        Por isso que eu digo que o PT não criou nada de novo.
        Mas os militares, tomaram o poder na hora certinha, bem na hora em que os castristas preparavam a instalação de guerrilhas urbanas e rurais.
        Só erraram em em ser bonzinhos e deixar muitos deles vivos.

Deixe um comentário

O seu endereço de e-mail não será publicado. Campos obrigatórios são marcados com *

Se você chegou até aqui, uma pergunta: qual o único veículo brasileiro voltado exclusivamente para cobertura do Parlamento? Isso mesmo, é o Congresso em Foco. Estamos há 17 anos em Brasília de olho no centro do poder. Nosso jornalismo é único, comprometido e independente. Porque o Congresso em Foco é sempre o primeiro a saber. Precisamos muito do seu apoio para continuarmos firmes nessa missão, entregando a você e a todos um jornalismo de qualidade, comprometido com a sociedade e gratuito. Mantenha o Congresso em Foco na frente.

Seja Membro do Congresso em Foco

Apoie