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Os brancos, os nulos e as abstenções

16.01.2017 14:34 5

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Luiz Carlos Borges da Silveira *

O resultado das últimas eleições apresentou um aspecto que foi muito comentado ainda no calor da apuração final, porém não analisado nem com a precisão e a profundidade requeridas. Refiro-me ao elevado, surpreendente e preocupante número de votos em branco, anulados e de abstenções nas eleições municipais do ano passado.

Só como exemplo: segundo dados finais e oficiais da Justiça eleitoral, no primeiro turno a soma de brancos, nulos e  abstenções superou o número de votos do candidato primeiro colocado em nove capitais. No segundo turno a situação se repetiu em três capitais, grandes colégios eleitorais: Rio de Janeiro, Belo Horizonte e Porto Alegre tiveram mais votos inválidos que o candidato primeiro colocado. Isso se repetiu na maioria dos municípios, havendo casos em que vereadores se elegeram com baixíssimo número de votos, o que quer dizer que não adianta repudiar pela omissão, alguém será eleito.

O interessante, e negativo, foi a forma de como tais números foram encarados e, de certa forma, justificados. O presidente Michel Temer declarou que era um alerta aos políticos. Correto, mas isso qualquer pessoa deduz, cabe analisar o porquê do alerta. Os políticos e lideranças da situação debitaram a avalanche de repulsa retratada pelas urnas aos malfeitos do governo anterior, associando o fato à corrupção. Já as lideranças da oposição, que representam o governo passado, sublinharam que os brancos, os nulos e as ausências eram a posição dos eleitores contra o processo de impeachment de Dilma Rousseff, que chamam de “golpe”, e à posse de Temer, que qualificam de usurpação.

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Os dois posicionamentos são facciosos, parciais e remetem apenas ao desejo de uma justificativa perante os eleitores em particular e à população em geral. Ambos os lados contribuíram – e continuam contribuindo – para o descrédito da classe política que afeta, infelizmente, a política que, em origem e princípio, é sadia, positiva e honesta, sendo os maus políticos que deturpam essa essência. A política é o grande instrumento para a boa e correta administração dos governos e da sociedade. Portanto, acusações ou recriminações mútuas por parte de quem mutuamente contribui para denegrir a política nada acrescentam, a não ser acentuar o descrédito. O momento é de falar aberta e sinceramente com a sociedade, para que em 2018 a resposta negativa não venha a se repetir.

A classe política tem obrigação de convencer a população, em particular o eleitorado, que política é ciência indispensável. A sociedade tem obrigação cívica de participar, de atuar, de discutir e votar. Antes se usava a alegação de que no período militar havia tolhimento tanto em participação e discussão como de oportunidade do voto. Agora, que a liberdade é assegurada, os eleitores jogam as conquistas no cesto de lixo. Se a situação e o panorama não são bons com a plenitude democrática, pior serão se as oportunidades de mudança forem desprezadas.

Os eleitores devem ser conscientizados de que votar em branco, anular o voto ou desprezar as urnas é omissão e irresponsabilidade. Cabe aos líderes políticos e aos formadores de opinião transmitir essa mensagem, embora para isso devam reconquistar o respeito e a credibilidade. E, por fim, cabe aos cidadãos em geral, tão enfáticos em protestos, passeatas e manifestações, ter o entendimento de que não adianta ir para as ruas e não comparecer à seção eleitoral. A mudança se faz através da prática política e do voto, símbolo maior da democracia.

* Luiz Carlos Borges da Silveira é empresário, médico e professor. Foi ministro da Saúde e deputado federal.

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5 respostas para “Os brancos, os nulos e as abstenções”

  1. Haroldo Steinkopf disse:

    Meu caro Luiz, creio que esta equivocado quanto a sua informação. Por exemplo para vereador os votos necessários se obi tem com a divisão dos votos válidos pe
    la quantidade de candidatos, logo, se quociente não for alcançado a votação é nu
    la haverá nova votação com outros candidatos. Assim daremos uma surra nestes políticos desonestos.

  2. 13582196 disse:

    Quem jogou as “conquistas” no lixo foram os próprios políticos, principalmente os ditos “socialistas”. Felizmente a informação via internet ainda é livre e está acessível à maioria e graças a isso as mentiras da esquerda ficaram com pernas ainda mais curtas!

  3. mariossergio disse:

    Em que planeta esse cara estava até hoje?

    Repudiar pela omissão, como disse o autor da matéria, pode não adiantar porque sempre alguém será eleito, mas pelo menos não ficamos com a consciência pesada quando aquele em quem votamos enfiar as mãos no bem público.

    E a classe política está cagando e andando para o povo. Política é ciência indispensável, sim, mas por aqui está nas mãos de bandidos. Comparecer à seção eleitoral para quê? Para escolher quem vai nos roubar nos próximos anos?

    Ah! agora no finzinho entendi! Ele foi Ministro da Saúde e deputado federal!

  4. Walldemar Sobrinho disse:

    Meu finado pai me dizia que quem se envolve em política é bandido e que isso é coisa de gente errada, sem decência e sem caráter. Fácil ele dizer isso porque os argumentos para sustentar sua afirmação são bastante abundantes. Gostaria de ver argumentos para contrariar a sabedoria que o velho tinha. O colunista se habilita ?

  5. Paulo disse:

    O autor do artigo ‘Luiz Carlos Borges da Silveira’ teve ´vários deslizes.
    O eleitor não foi irresponsável, e também também não foi omisso.
    Votou certinho.
    O motivo é muito simples, não houveram candidatos confiáveis, portanto tentou por todos os meios não votar em ninguém.
    Se desejas que os eleitores elejam alguém de confiança, então que lancem candidatos em quem podemos confiar com certeza.
    Só para citar alguns exemplos, é melhor anular do que ser irresponsáveis e eleger prefeitos como o de Osasco ou de Embu das Artes, e sabe lá quantos mais patifes andaram elegendo Brasil afora.
    Entendeu sr Luiz Carlos ou quer que eu desenhe ?

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