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O general Eduardo Pazuello, foi o braço direito do presidente Bolsonaro na pandemia de covid-19. Foto: Jefferson Rudy/Agência Senado

Os vendilhões da vida

20.07.2021 07:15 0
Atualizado em 10.10.2021 16:05

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Oxalá estava inconsolável naquele cair da tarde de sexta. Ele acabara de receber a notícia de que estavam negociando a vida, via mercado clandestino e obscuro de vacinas destinadas ao combate da pandemia. Perguntava-se onde errara na criação da humanidade.

Desconhecia o motivo do apego exagerado ao poder que massacrava povos e culturas, escravizava seres humanos, sufocava esperanças e anulava projetos de vida. Não conseguia compreender a dificuldade da pessoa humana em fazer da solidariedade a sua própria fórmula de comunicação.

Ignorava a razão de se adorar o dinheiro como sendo o maior dos orixás? Os orixás então sendo derrotados na capacidade de proteger a terra? Religiosidades materialistas estavam surgindo? O processo civilizatório não mais controlaria a barbárie? O erro fazia parte do processo evolutivo? Seria falha de comunicação? Teria sido a qualidade do barro utilizado na criação?

Ere-îkó-katú-pe? – perguntou Jaci, preocupada, ao perceber a expressão compenetrada e triste de seu orixá amigo. – Quer conversar conosco?

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– Amanheci feito Emanuel naquele dia em que foi ao mercado com João, Marcos, Mateus, Lucas e vários amigos – murmurou Oxalá.

– Se você está falando do dia em que perdi a paciência no Templo, posso compreender os seus sentimentos – apiedou-se Emanuel, sabendo qual o episódio mencionado por Oxalá. – É muito difícil aceitar a ganância das pessoas que nós criamos.

–  Realmente estou falando do episódio que João nos contou – concordou Oxalá, sem se espantar com a onisciência de seu amigo. –  Ele bem registra o seu momento de ira e revolta contra os mercadores que faziam do Templo um espaço de negócios e usura.

– “Tirem tudo isto daqui! Parem de fazer da casa do meu Pai um mercado!” – repetiu Jaci, imitando Emanuel, repetindo a frase que João anotara no Evangelho.

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– Jaci! Jaci! – gargalhou Emanuel, com a imitação de sua voz.

– Oxalá, se você for chilicar na porta de seu terreiro, avise-me antes – seguiu curtindo Jaci.

– Jaci e suas brincadeiras! – riu Oxalá, sabendo que amiga queria apenas trazer um pouco de alegria ao seu dia.

– Eu sei que o assunto é muito sério! Não é certo brincar com a dor e os sentimentos dos familiares que tiveram perdas evitáveis. – penitenciou-se Jaci. – Peço desculpa se fui incompreendida.

– Sabemos do seu iluminante amor! – consternou-se Emanuel. – Sabemos que você não falou com o sarcasmo dos que desprezam a vida. Você jamais humilharia qualquer pessoa, até porque a sua empatia sempre trouxe brilho para a humanidade.

– Realmente é muito triste saber que vendilhões seguem ativos no mercado da vida. Sei que eles estão aproveitando a pandemia para corromper, roubar, trambicar e lucrar com o mercado das vacinas – retomou, séria, Jaci. – Oxalá tem mesmo razão em sua angústia e preocupação.

– Milhares de brasileiras e brasileiros estão morrendo em razão desse macabro comércio. O que esses mercadores da vida estão fazendo é bem pior do que os vendilhões do mercado de Jerusalém – consternou-se Emanuel. –  E olhe que vários deles exibem-se como de pessoas de bem, algumas até camufladas em fardas moralistas.

– Eu tenho chorado muito com a morte de meu povo – suspirou Jaci. – Ainda hoje lamento não mais contar com a voz altiva e ativa do meu cacique Aritana Yawalapiti.

– Negou-se a validade das vacinas, para depois validarem um negócio nebuloso dessas mesmas vacinas, agora mais caras ou até mesmo inexistentes – retomou Oxalá. – Prevaricação, corrupção, propina, atravessadores, trambiqueiros e outras doenças passaram a ser inoculadas no corpo da sociedade.

– E todas essas ações criminosas com um poder tão letal quanto o vírus pandêmico – concluiu Jaci.

– Obaluaiê nos disse que os espíritos obsessores desses vendilhões têm espalhados os vírus da corrupção em vários entes públicos – complementou Oxalá. – Vai ser preciso muita água para lavar as escadarias dos prédios públicos e defumar as roupas e os uniformes que trajam.

– Lourenço conhece todas as doenças que contaminam a humanidade – concordou Emanuel. – A luxúria, a soberba e a avareza são doenças pecaminosas que têm matado muito.

– Anhangá não vê a hora de receber esses mercadores da vida em sua moradia – desabafou Jaci. – Ele e Jurupari, é claro!

– “Deus trará a julgamento tudo o que foi feito, inclusive tudo que está escondido, seja bom, seja mau” – afirmou Emanuel, citando Eclesiastes 12:14.

– Não vejo a hora de Exu espalhar a mensagem contra esses mercadores da vida – contribuiu Oxalá. – Assim ajudamos Anhangá e Jurupari a levarem para o baixo astral esses kiumbas e espíritos obsessores que zombam das nossas criaturas.

– “Porque o juízo será sem misericórdia sobre aquele que não fez misericórdia; e a misericórdia triunfa sobre o juízo” – seguiu afirmando Emanuel.

– Espero que as palavras de Tiago iluminem a magistratura brasileira, para que condene esses mercadores ainda no plano terrestre – retomou Oxalá, esperançoso com o resultado do colóquio. – E que os raios de Xangô abram um clarão de consciência no coração da cidadania brasileira.

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