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Líder do governo Bolsonaro, gRicardo Barros é considerado pivô na Saúde da disputa entre Centrão e militares. [fotografo] Reprodução/Twitter [fotografo]

Depoimento de Barros expõe entranhas da briga entre Centrão e militares

08.08.2021 10:30 0

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O depoimento do líder do governo na Câmara, Ricardo Barros (PP-PR) à CPI da Covid nesta semana levará para o centro do palco da investigação a grande disputa de poder que há hoje dentro do governo do presidente Jair Bolsonaro. A disputa entre os militares e o Centrão. A posse na semana passada do senador Ciro Nogueira (PP-PI) na Casa Civil da Presidência é o ápice dessa disputa, com ampla vitória para o Centrão. Mas há um ponto paralelo onde essa disputa se deu e se dá de forma intensa: o Ministério da Saúde.

Para o relator da CPI da Covid, Renan Calheiros (MDB-AL), foi especialmente dentro do ministério que mais se intensificou a briga entre os dois grupos. E Ricardo Barros é o grande pivô dessa disputa.

O atual líder do governo na Câmara foi ministro da Saúde no governo Michel Temer. Em diversos momentos, diante da frenética troca de comando na pasta durante a pandemia de covid-19, seu nome foi cogitado para retornar ao cargo. Na avaliação de Renan Calheiros, Ricardo Barros deixou implantado, porém, ali um grupo sobre o qual tem influência.

Já o grupo militar foi se implantando no ministério a partir do general Eduardo Pazuello. O general entrou no ministério na gestão de Nelson Teich, substituindo João Gabbardo como secretário-executivo. Na saída de Teich, ficou um tempo como ministro interino até ser efetivado para se tornar o mais subserviente dos ministros da Saúde na gestão Bolsonaro. Aquele que disse: “É simples assim: um manda e o outro obedece”. A partir de Pazuello, entram na trama militares hoje investigados na CPI, como o ex-número dois de Pazuello no ministério coronel Élcio Franco e o ex-secretário substituto de Logística coronel Marcelo Blanco.

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Embora reservadamente os senadores da CPI admitam que Ricardo Barros, por sua experiência como parlamentar, não vá se deixar enredar pelo interrogatório na comissão, seu depoimento é cercado de expectativa pela possibilidade de ajudar a desvendar como se dava essa briga intestina entre os grupos no ministério da Saúde.

O nome de Ricardo Barros veio à tona na CPI no depoimento do deputado Luís Miranda (DEM-DF) e de seu irmão, Luís Ricardo, funcionário do Ministério da Saúde. Os irmãos Miranda denunciaram que havia uma “pressão anormal” para que se apressasse o processo de aquisição da vacina indiana Covaxin, do laboratório Barath Biotech. Se adquirida, essa vacina seria a primeira a ser comprada não diretamente do laboratório produtor, mas com a ação de um atravessador, a Precisa Medicamentos. Os irmãos Miranda denunciaram que levaram a situação ao presidente Jair Bolsonaro, falando da pressão e de irregularidades que superfaturavam o preço da vacina. E Bolsonaro nada teria feito de concreto para apurar o caso.

Já no final da sessão na CPI, pressionado pela senadora Simone Tebet (MDB-MS), Luís Miranda acabou, aos prantos, admitindo que, na conversa com o presidente, o próprio Bolsonaro mencionara um nome por trás dessa pressão para que o contrato fosse fechado. O nome era Ricardo Barros.

Barros nega ter feito tal pressão. Mas há entre ele e a Precisa uma outra ligação. Uma ação de improbidade dos tempos que Barros era ministro da Saúde envolve a ele e uma empresa sócia da Precisa, a Global Gestão em Saúde. No caso, tratava-se de intermediação para a aquisição de medicamentos para pacientes com doenças raras. A Global forneceu o menor preço no processo, mas não teria entregue os medicamentos, embora tivesse recebido antecipadamente R$ 19,9 milhões.

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No caso da negociação com a Davati Medical Supply para a aquisição de vacinas da AstraZeneca, o caminho passa pelo grupo militar, especialmente pelo coronel Elcio Franco. Segundo o representante da Davati no Brasil, Cristiano Carvalho, em seu depoimento à CPI, a transação passava pelo coronel e pelo ex-secretário de Logística do ministério Roberto Dias. E, em ambos os casos, com a participação de outros intermediários. Elcio Franco tinha como intermediário o também coronel Helcio Bruno, de uma ONG, o Instituto Força Brasil, que defende o chamado “tratamento precoce” da covid com medicamentos sem eficácia comprovada. E Roberto Dias outro coronel, Marcelo Blanco, ex-assessor da Saúde. Em seu depoimento à CPI, Blanco disse que aproximou-se de Dias para prospectar, já fora do governo, a possibilidade de fechar negócio com eventuais compradores particulares de vacina.

Para Renan, Elcio Franco é uma interseção em todos os negócios. “Ele parece estar em todas as pontas”, disse o relator da CPI. E pode haver aí também uma ponta da disputa de poder e interesses entre os dois grupos.

O depoimento é aguardado em um momento em que o Centrão reforça sua força no governo, após a posse de Ciro Nogueira. Fora do campo da Saúde e do combate à covid-19, outro exemplo da briga intestino do Centrão com os militares foi o vazamento da história de que o ministro da Defesa, general Braga Netto, teria feito chegar ao presidente da Câmara, Arthur Lira (PP-AL), a ameaça de que não haveria eleição se não fosse aprovado o voto impresso. Nos bastidores, aponta-se que o vazador da história foi Ciro Nogueira. Sua fofoca contra o general foi premiada com a posse no ministério que Jair Bolsonaro chama de “alma” do governo.

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