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A mentira como método de atuação política

13.11.2017 07:56 1
Atualizado em 10.10.2021 16:36

Reportagem
"Eduardo Cunha, apanhado na Lava Jato: “Não tenho preocupação nenhuma. Zero”. Nem teve tempo de ter e entrou em cana. Temer disse outro dia que tinha “preocupação zero” com a Lava Jato. É. De zero em zero as cadeias vão se enchendo, chuchu"
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Aprenda, chuchu: políticos devem ser julgados pelo que fazem, e não pelo que dizem. Porque o discurso político flutua ao sabor das conveniências de ocasião. Quase sempre é uísque batizado. Já o que eles fazem, como votam e se comportam – é o que interessa.

Mentiras políticas abarrotam o mundo. Aqui no Brasil, a maior continua sendo o “Plano Cohen”, projeto de revolução comunista. Pura mentira. O texto era uma invenção do General Olímpio Mourão Filho (ele mesmo). A mentira deu certo. Baseado nela, Vargas pediu e o Congresso declarou Estado de Guerra, dando início à ditadura do Estado Novo. Já a “Operação Uruguai” foi uma mentira inventada por Claudio Vieira, secretário de Collor, para negar que ele recebesse grana do empresário  Paulo César Farias, o arrecadador de propinas do governo. O “empréstimo” de quase 4 milhões de dólares (318 kg de ouro) teria sido feito no Uruguai. A mentira foi descoberta e Collor, impichado.

“Uma mentira repetida mil vezes torna-se verdade” (Goebells, ministro da propaganda de Hitler). “O povo acredita mais facilmente numa grande mentira do que numa pequena” (Hitler). A mentira virou método de atuação política. Lula negou, negou e negou o mensalão. Até reconhecer que se sentia “traído por práticas inaceitáveis”. Pediu desculpas. Mas o  arrependimento durou pouco. Logo depois, passou a desmentir o desmentido e não parou mais.

Já FHC, desde que deixou de usar fraldas, espalha a mentira de que a prioridade de sua vida é a reforma tributária. Foi senador, foi ministro da fazenda, foi presidente duas vezes. E reforma tributária que é bom, nem tchuns. “Esqueçam tudo o que eu disse”, afirmou uma vez. Melhor esquecer mesmo. Eduardo Cunha e Paulo Maluf negaram de pés juntos terem contas na Suíça. Mentira. Eles tinham, chuchuzinho. É capaz até de ainda terem.

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Em 2013, o deputado Henrique Alves juntou os amigos, pegaram um jatinho da FAB e tocaram pro Rio, pra assistir a um jogo do Brasil. Oficialmente, a viagem era “para uma reunião com o prefeito Eduardo Paes”. Mentira.  Alves terminou devolvendo os R$7 mil das passagens. Sérgio Cabral dizia que só usava o helicóptero do governo para fins oficiais. Mentira. Andava pra cima e pra baixo nele, e ainda levava o cachorro. O deputado baiano João Alves dizia ter uma fórmula genial que o permitiu acertar 200 vezes na loteria. Lorota. Os 800 milhões que não conseguia explicar vinham mesmo era das empreiteiras às quais dirigia recursos de emendas. José Dirceu e Delúbio Soares negaram o uso de caixa dois nas campanhas do PT. Mentira. Tratavam-se, apenas, segundo ambos, de “recursos não contabilizados”, um nome bonito para a mesma coisa: caixa dois!

<< Não há inocentes. Todos são cúmplices

Quando Adalberto Silva, assessor do PT, foi apanhado com um monte de dinheiro na cueca, alegou que era produto da venda de verduras. Mentira. Era propina mesmo. E ainda se saiu com essa: “Não estava na cueca, mas sim no cós da calça”. Quá! Sim, chuchu, eu poderia lembrar Costa e Silva, o ditador que assinou o AI-5 mas teve o desplante de dizer posse que no Brasil não havia “lugar para ditaduras”. Ou Deodoro da Fonseca, que dizia combater o sistema republicano mas foi o primeiro presidente da república de Pindorama. E José Roberto Arruda, que apareceu num vídeo recebendo R$50 mil? Como estava perto do Natal, disse que eram pra comprar panetones. Você recebeu seu panetone, chuchu? Nem eu.

Antonio Carlos Magalhães declarou que o painel do Senado era inviolável. Até ser flagrado mandando o mesmo José Roberto Arruda violar o painel do Senado. Sarney dizia não saber o que era ato secreto. Mentira. Só reconheceu ao ser defrontado com vários, assinados por ele próprio.

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Quando deputado, José Maria Alkmin voltava de uma viagem a Roma e foi pego na alfândega com uma caixa de uísque. Alegou que era água benta pelo próprio papa. O oficial abriu a caixa e disse: “Mas deputado, é uísque!”. E Alkmin: “Viu? A água já começou a operar milagres!”

Voltando aos dias de hoje: Lula declarou que não tinha a menor preocupação com a delação de seu amigo Palocci. Mentira. Mal Palocci descarregou o caminhão das roubalheiras do PT, Lula disse que Palocci  inventou tudo pra se safar. Joesley, que de Batista não tem nada, disse no início do ano que a chance de ser preso era “nenhuma, zero”. Mentira. Tá em cana até hoje. Tal como Eduardo Cunha, apanhado na Lava Jato. “Não tenho preocupação nenhuma. Zero”. Nem teve tempo de ter e entrou em cana. Temer disse outro dia que tinha “preocupação zero” com a Lava Jato. É. De zero em zero as cadeias vão se enchendo, chuchu.

Pior é que as pessoas continuam acreditando nas lorotas dos políticos. Pesquisa da consultoria Kantar mostrou que 58% confiam menos em notícias políticas vistas em redes sociais. Ou seja: se a mentira é disseminada FORA das redes, tem boa credibilidade. Conclusão: minta fora das redes que o povo acredita.

<< Do mesmo autor: Então, fica combinado assim – noções de realidade à brasileira

Uma resposta para “A mentira como método de atuação política”

  1. mariossergio disse:

    E agora a pergunta que vale 1 milhão: votar em quem?
    Não sei se é o caso desse articulista, mas até hoje não vi um que defenda o voto nulo. Se foi esta a intenção desta matéria, parabéns…

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