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Brasília de A a Z: o que diz o L

10.05.2017 09:00 0

Reportagem
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L4 Sim, mas onde fica a L3? Na Asa Norte entre as quadras 600 e a UnB. Na Asa Sul foi ocupada pela Avenida das Nações, onde estão as quadras 800. L2 todos sabem localizar. E a L1? Entre as quadras 200 e 400, nas duas asas.

L5 só nas asas da sua imaginação.

Laboratorista O cantor Ney Matogrosso viveu em Brasília por 7 anos, dos 21 aos 28, entre 1961 e 1968, exercendo a profissão de laboratorista de anatomia patológica no Hospital de Base de Brasília. Já ouvi relatos de que foi motorista de ambulância, enfermeiro, assistente cirúrgico… Em 1974 a Caderneta de Poupança Colmeia patrocinou a vinda do conjunto Secos & Molhados para um show no Ginásio Nilson Nelson. Eu fui.

Lago Paranoá Fundamental na nossa paisagem, o lago é como uma moldura envolvendo a cidade, umedecendo-a. A chegada do lago trouxe também uma grande variedade de aves aquáticas, fáceis de serem observadas. Inclusive o lago é pouso de algumas aves migratórias que cruzam as Américas e lar de capivaras, jacarés, biguás, socós e garças. Em 1894 o botânico francês Auguste Glaziou, paisagista de Dom Pedro II, aqui esteve com a Missão Cruls e disse categoricamente: se construírem uma cidade aqui há que se fazer um lago. E indicou o lugar da barragem, exatamente onde ela está hoje. Muitos dos trabalhadores que construíram a barragem ficaram por ali, formando a favela do Paranoá, origem da cidade com o mesmo nome, transferida para uma parte mais alta.

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Lenda urbana: as águas represadas subiram tão rápido que muitos tratores, caminhões e equipamentos ficaram submersos. Um ou outro, velho, quebrado, abandonado, talvez. A verdade é que uma cidade inteira ficou embaixo d’água, isso sim. Foi a Vila Amaury, em frente aos Fuzileiros Navais, perto da Vila Planalto. Como o governo sabia que a área seria inundada deixou que ali se construíssem muitos barracos. Mergulhadores já fotografaram pisos, calçadas e ruínas da cidade submersa. Certamente, daqui a centenas de anos, ou algumas décadas (depende de nós), o lago Paranoá vai secar. As únicas fontes de água seguras vêm dos rios que nascem no Parque Nacional de Brasília e no complexo ecológico Jardim Botânico, Reserva Ecológica do IBGE e da Fazenda Água Limpa, da UnB. Os outros cursos d’água estão poluídos, sendo soterrados e, consequentemente, secando. E em breve vamos consumir a água do lago, pois água é o recurso natural mais escasso no Distrito Federal. Ouvi de um biólogo a seguinte ideia: em vez do lago, mais eficiente seria plantar árvores em toda a extensão que a lâmina d’água ocupa, pois a soma das áreas das folhas, em camadas, daria cerca de dez vezes a atual superfície do Paranoá. Tem lógica: as folhas transpiram mais que o espelho d’água. Mas não funcionaria. Iriam cortar as árvores, invadir a área, lotear, fazer chácaras, e aí adeus lago, adeus umidade, adeus paisagem. Deixa o lago como está.

Le Corbusier Se Lucio Costa e Oscar Niemeyer são os pais de Brasília, então Le Corbusier é nosso avô! O urbanista franco-suíço libertou a arquitetura brasileira da tirania do neoclassicismo e a lançou na vanguarda mundial, cuja maior tradução é justamente a nossa Brasília, esta cidade ardente e intensa. Quando visitou a capital em 1962 (“Aqui há invenção”, disse) se encantou com os pilotis redondos nas quadras iniciais das quatrocentos Norte. Para Le Corbusier, os apartamentos das superquadras são máquinas de morar, e nós, apenas parte de uma engrenagem. Por isso Brasília deu no que deu. (Inclusive supõe-se que exista uma carta (onde está?) de Le Corbusier para JK se oferecendo, gratuitamente, para coordenar o projeto de implantação de Brasília. JK nem respondeu a carta, que virou uma típica lenda urbana).

Leitura Muito se escreveu sobre Brasília, mesmo quando ela ainda nem existia. Os mais importantes na minha biblioteca são estes:

•  Relatório do Plano Piloto, de Lucio Costa

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•  Brasília Kubitscheck de Oliveira, de Ronaldo Costa Couto

•  História de Brasília, de Ernesto Silva

•  Renato Russo, o filho da revolução, de Carlos Marcelo

•  Brasília – Memória da Construção – Vol I e II, de L. Fernando Tamanini

•  A mudança da Capital, de Adirson Vasconcelos

•  A cidade modernista – uma crítica de Brasília e sua utopia, de James Holston

•  Expresso Brasília, de Edson Beú

•  Invenção da cidade, de Clemente Luz

•  JK, o artista do impossível, de Claudio Bojunga

•  Registro de uma vivência, de Lucio Costa

•  Vários títulos, de Aldo Paviani

•  O capital da esperança, de Gustavo Lins Ribeiro

•  Cidade Livre, de João Almino

•  Brasília: a fantasia corporificada, de Brasilmar Ferreira Nunes

•  Guiarquitetura Brasília, Editora Abril

•  Relatório Cruls (Codeplan)

•  Porque Construí Brasília, de Juscelino Kubitschek de Oliveira

•  Brasília – antologia crítica, de Alberto Xavier e Julio Katinsky (org.)

•  Brasília aos 50 anos – que cidade é essa?, de Beth Cataldo e Graça Ramos (org.)

•  História da Terra e do Homem no Planalto Central, de Paulo Bertran

•  A invenção da superquadra, de Marcilio Mendes Ferreira e Matheus Gorovitz.

•  Consultem a Coleção Brasilienses, patrocinada pelo ParkShopping, com cinco volumes, editada pela Multicultural Arte e Comunicação entre 2004 e 2012.

•  O ITS – Instituto Terceiro Setor, com o patrocínio da Vale, lançou, em 2012, a Coleção Arte em Brasília, narrando as cinco décadas de cultura, com 10 volumes.

Arquitetura (Eduardo Rossetti), Artesanato (Malba Aguiar e Mercês Parente), Artes Cênicas (Celso Araujo), Artes Visuais (Renata Azambuja), Cinema (Sérgio Moriconi), Esporte (Paulo Rossi e Luiz Roberto Magalhães), Fotografia (Graça Seligman e Beatriz Vilela), Literatura (Paulo Paniago), Manifestações Populares (Lara Amorim) e Música (Severino Francisco).

Léo e Bia Quem mais cantou Brasília? A disputa está entre Liga Tripa e Oswaldo Montenegro, gostem dele ou não (eu gosto). Léo e Bia foi um sucesso e tanto. “No centro de um planalto vazio / como se fosse em qualquer lugar / como se a vida fosse um perigo / como se houvesse faca no ar”… Em 1982 dirigiu o musical Veja você Brasília, que revelou vários talentos da cidade, com destaque para Zélia Duncan e Cássia Eller. Léo e Bia, por votação popular, foi o nome escolhido para um casal de girafas do Zoológico, que já faleceu. Mas Oswaldo está na ativa e isso é bom.

Leveza Por que os edifícios públicos de Brasília, criados por Niemeyer, têm tanta graça e leveza? Água. Todos têm um espelho d’água ao redor. Por que os blocos das superquadras, criados por Lucio Costa, têm tanta graça e leveza? Pilotis. Brasília provou ao mundo que arquitetura moderna poderia ter beleza. E leveza.

Lira Pau-Brasília Coletivo de poetas que atuava, principalmente nas escolas do Distrito Federal, no início dos anos 80. Integrada por Chacal, Turiba, Paulo Tovar, Soter, Luis Martins e este escriba, a Lira, que delírio, publicou, em edição mimeografada, Merenda Escolar – um lance poético. Ilustrações de Regina Ramalho.

Lógica e Lírica Brasília “Desenhada por Lúcio Costa, Niemeyer e Pitágoras / Lógica e lírica / Grega e brasileira / Ecuménica / Propondo aos homens de todas as raças / A essência universal das formas justas // Brasília despojada e lunar como a alma de um poeta muito jovem / Nítida como Babilónia / Esguia como um fuste de palmeira / Sobre a lisa página do planalto / A arquitectura escreveu a sua própria paisagem // O Brasil emergiu do barroco e encontrou o seu número // No centro do reino de Ártemis / — Deusa da natureza inviolada — / No extremo da caminhada dos Candangos / No extremo da nostalgia dos Candangos / Athena ergueu sua cidade de cimento e vidro / Athena ergueu sua cidade ordenada e clara como um pensamento // E há nos arranha-céus uma finura delicada de coqueiro”. (Sophia de Mello Breyner Andresen, poeta portuguesa, falecida em 2004, poema do livro Geografia, de 1967).

Longe do Paranoá Oswaldo Montenegro (1980): Numa tarde quente eu fui me embora de Brasília / Num submarino do lago Paranoá / Quero ser estrela lá no Rio de Janeiro namorando / Madalena na beira do mar / Qualquer dia, mãe, você vai ter uma surpresa / Vendo na TV meu peito quase arrebentar / Quero ser estrela lá no Rio de Janeiro namorando / Madalena na beira do mar / Quem quiser que faça o velho jogo da política / Na sifilítica maneira de pensar / Quero ser estrela lá no Rio de Janeiro namorando / Madalena na beira do mar / Eu tenho o coração vermelho / E o que eu canto é o espelho do que se passa por lá.

Loucos de Pedra Desses que atiram pequenas pedras coloridas em uma parede e surgem desenhos e poemas, espalhados pela cidade. Como os muitos na Biblioteca Maria da Conceição Moreira Salles, entre a 506 e a 507 Sul. Estou lá, junto com Francisco Alvim, Cassiano Nunes e Ana Maria Lopes, num poema que diz: “naquela noite suzana estava /mais W3 do que nunca / toda eixosa / cheia de L2 // suzana, vai ser superquadra assim / lá na minha cama”. O curioso é que os mosaicos criados pelo artista plástico (e humorista) Gougon e seus Loucos de Pedra nunca foram pichados nem depredados, de tão belos que são.

Outros verbetes de BRASÍLIA-Z – Cidade-palavra, de Nicolas Behr:

Brasília de A a Z: o que diz o A

Brasília de A a Z: o que diz o B

Brasília de A a Z: o que diz o C

Brasília de A a Z: o que diz o D

Brasília de A a Z: o que diz o E

Brasília de A a Z: o que diz o F

Brasília de A a Z: o que dizem o G e o H

Brasília de A a Z: o que diz o I

Brasília de A a Z: o que dizem o J e o K


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