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Racionamento de água: crise de abastecimento no DF ocorre desde década de 1960

23.01.2017 18:59 0

Reportagem
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Reprodução[fotografo]Reprodução[/fotografo]

Segundo a Companhia de Abastecimento do DF, adensamento populacional preocupou e ainda perturba o abastecimento de água na região

Por Hamilton Ferrari, da Agência UniCeub

Brasília foi construída para comportar 500 mil habitantes até o ano 2000. Para o abastecimento de água, a previsão não foi diferente. Mas o crescimento populacional surpreendeu os projetistas e o número de habitantes superou a estimativa já em 1970. Com o imprevisto, a Companhia de Saneamento Ambiental do Distrito Federal (Caesb) precisou readaptar os sistemas de abastecimento e realizar previsões mais seguras para os anos seguintes. Em 2017, 56 anos depois, o Distrito Federal entra na segunda semana do racionamento. De acordo com a Caesb, objetivo é preparar os reservatórios para o próximo período de seca – que deve começar em maio.

Em documentos do Arquivo Público, o ex-deputado goiano Anísio Rocha deu detalhes de como seriam os serviços de água e esgoto em Brasília. O político, que era do Partido Social Democrático (PSD) – o mesmo do ex-presidente Juscelino Kubitschek –, escreveu um artigo à Revista Brasília em maio de 1959, explicando que seriam feitos “dois serviços no Departamento de Água e Esgoto da Companhia Urbanizadora da Nova Capital do Brasil (Novacap). “O provisório e o definitivo, sendo que o primeiro, destina-se a atender os diversos acampamentos, Núcleo Bandeirante e canteiros de trabalho”, disse.

Brasília foi construída para comportar 500 mil habitantes até o ano 2000

A captação seria dada em diversas fontes, o que daria um volume de nove milhões de litros por dia. Naquela época, foram empregados 50 quilômetros de tubulação. O abastecimento definitivo estava adiantado naquele ano. Uma câmara do Reservatório R-2, que abastece a zona sul e 600 encanamentos domiciliares já estavam em funcionamento. A construção da Barragem do Ribeirão do Torto estava em andamento, fornecendo água para a cidade. “Durante os primeiros anos, isto é, para uma população de cerca de 400 mil habitantes”, declarou o deputado.

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Em apenas dez anos, a população da capital superou o projetado para quatro décadas. Em 1970, a Caesb reconheceu que, no período entre 1960 e 1969, o crescimento demográfico acarretou uma série de problemas aos serviços públicos, dificuldades essas que refletiram de maneira marcante nos programas de água e esgoto, segundo a companhia.

Sérgio Koide, professor do Departamento de Engenharia Civil e Ambiental da Universidade de Brasília (UnB), disse que os problemas com o abastecimento de Brasília começaram na previsão para uma população de 500 mil habitantes até o ano 2000. “Os projetistas chegaram à conclusão de que bastaria um reservatório grande, feito com uma ótima estrutura e com água de altíssima qualidade, mas que não daria conta de abastecer por muitos anos”, explicou.

Maurício Laduvice, presidente da Caesb, reconheceu que o adensamento populacional preocupou e ainda perturba o abastecimento de água no DF. “Em 1970, a Caesb inaugurou o Sistema de Santa Maria e, em 1973, a Barragem do Rio do Descoberto. Nós projetamos o consumo para os próximos anos”, declarou. Na década de 70, a companhia preferiu dar uma margem de segurança maior para os anos seguintes e estimou uma população de 2,5 milhões de habitantes em 1990.  Atualmente, esse número superou a previsão, indo para 2,9 milhões.

Readaptações

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Em 1970, a Caesb ressaltou a impossibilidade de continuar com apenas o Sistema do Torto. “Os acréscimos introduzidos no plano Lúcio Costa, a manutenção do Núcleo Bandeirante, a criação do Guará, o rápido esgotamento do potencial dos mananciais que abastecem as cidades satélites, a contínua ocupação das bacias hidrográficas, nos mostrou a impossibilidade de se continuar a execução de sistemas isolados, exigindo a procura de mananciais que pudessem fornecer grandes vazões para atender a esse crescimento demográfico”, informou.

No início da década de 70, os pesquisadores da Caesb projetaram um consumo em 1990 de 590 litros por habitantes em um dia para o Plano Piloto e de 360 litros para cada morador em 24 horas para as cidades satélites. Naquela época, o Sistema de Santa Maria ainda estava em construção e o Sistema de Descoberto não tinha começado.

“Mesmo assim, novos problemas de abastecimentos ocorreriam, caso não houvesse novos sistemas”, disse o professor Koide. “O aproveitamento do Sistema do Rio Descoberto se dará em duas etapas. A primeira entrará em funcionamento em 1973, indo até 1978, com a segunda etapa, que irá garantir o abastecimento d’água até 1982. A partir desta data deverá entrar em operação o Sistema São Bartolomeu”, projetou a Caesb em documento do Arquivo Público.

Para o ano 2000, a Caesb estimou um volume de 2.150 m³ ao Córrego de Santa Maria, de 6 mil m³ para 35 mil m³ do Rio São Bartolomeu. Contando todos os mananciais, o Distrito Federal teria 45 mil m³ no século 21.

[fotografo]Reprodução/Agência UniCeub[/fotografo]

Jornais da década de 1960 já informavam sobre possibilidade de haver uma crise hídrica

As novas previsões deram uma certa folga ao abastecimento de água no DF. “A Caesb vinha trabalhando num cronograma razoável. A margem de segurança era muito grande, dentro do que é razoável. Quando ocorria uma estiagem, havia ainda uma reserva muito grande. Não havia preocupação da Caesb em fazer racionamento. O próprio sistema conseguia absorver tranquilamente a quantidade de água perdida”, declarou Koide.

Foi quando o crescimento populacional do DF e problemas de obras afetaram o abastecimento. “Brasília ganha 600 mil habitantes por ano, o que é um número muito grande. Além disso, questões orçamentárias, falência de empresas, alterações na fonte de recursos e o período de seca contribuíram para o agravamento. A margem de segurança foi diminuindo ano a ano”, disse o engenheiro ambiental.

Laduvice afirmou que os problemas durante todos esses anos foram pontuais em período atípico, mas que não representavam crise hídrica ou algo similar ao que ocorre atualmente no DF. “Nós nos preparamos no passado e ainda estamos nos preparando para os anos seguintes”, concluiu.

Leia a matéria na Agência UniCeub

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