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Sobre as manifestações de 20 de agosto

20.08.2015 12:00 0

Reportagem
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Em política, como na vida, há uma regra básica: não se pode tomar as pessoas e instituições pelo que elas dizem de si mesmas, e sim pelo que realmente são. E o que define o que realmente são – pessoas e instituições – é a sua prática, e não a propaganda que fazem de si.

Começo essa nota com essa reflexão porque me parece necessária no momento. Passadas as manifestações de 16 de agosto, convocadas e voltadas para fortalecer a oposição burguesa encabeçada pelo PSDB, instala-se na esquerda uma polêmica sobre os atos convocados para 20 de agosto.

As direções do Psol e do MTST, que participam da convocação destes atos, reclamam dos setores “governistas” que teimam em dar um caráter de defesa do governo a esta atividade. A direção do MTST vai mais longe e critica os “sectários” que estariam usando a situação para fazer confusão e caracterizar estes atos como governistas.

Não se justifica a reclamação. A decisão de organizar atos “por direitos, liberdade e democracia” e “contra a ‘direita’ e o ajuste fiscal”, em contraponto às manifestações convocadas pelo PSDB (16/8), junto com o PT, CUT, MST, CTB, UNE, não poderia dar outro resultado. Não se trata de uma manifestação como a que fizemos junto com estas entidades em 29 de maio, que foi contra o ajuste fiscal e, por esta via, contra o governo. O que está sendo convocado agora é um ato contra a “direita” que, por esta via, ainda que critique o governo é um ato para defendê-lo.

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Neste contexto, nada mais normal do que dizerem que os atos são para defender o governo. É esta a posição destas organizações. E é este o caráter destes atos desde o início.

Mesmo que houvesse ingenuidade em política, seria subestimar a inteligência dos dirigentes do Psol ou do MTST afirmar que teriam sido enganados no processo. O que houve foi uma escolha política destas direções – de construir um ato com o governismo que tivesse como objetivo central enfrentar o tal “golpe da direita”. E isto colocou, sim, suas organizações no campo da defesa do governo Dilma.

Se em nenhum momento esta história do “golpe da direita” teve algum sentido, menos ainda tem agora, quando o grande empresariado, representados pela Fiesp e pela Firjan, o sistema financeiro, representado pelo presidente do Bradesco e a própria mídia, representada pela Rede Globo, fazem questão de vir a público defender a “governabilidade”.

Ao ser colocada em prática, a escolha política dos companheiros dá nisso aí que todos estão vendo: um ato para defender o governo, o mesmo governo que ataca os direitos dos trabalhadores para atender os interesses dos bancos, das multinacionais e grandes empresas. Um escândalo para qualquer ativista que esteja minimamente sintonizado com a luta dos trabalhadores deste país. Por isso a crise.

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E é preciso tirar as conclusões corretas de tudo isso. É preciso romper com os atos do dia 20 para construir a luta contra o governo e contra a oposição burguesa.

A CSP-Conlutas e as organizações do Espaço de Unidade de Ação, onde se inclui o PSTU, acreditam que na polarização governo Dilma de um lado e oposição burguesa de outro é preciso lutar contra os dois, e construir uma alternativa de classe para a crise que vive o país. Com esse entendimento, chamamos a não ir nem ao ato convocado para fortalecer a oposição burguesa (16/8), e nem ao que está sendo convocado para defender o governo Dilma (20/8).

Os trabalhadores, a classe operária em especial, estão indignados com o governo Dilma e com toda essa corja que, no Congresso Nacional, ajuda o governo a atacar os seus direitos. Precisamos oferecer a eles uma alternativa de classe, de luta contra o governo e contra a oposição burguesa. É isso que estamos construindo e que deve promover uma primeira manifestação nacional em setembro. Diferente do que diz a liderança do MTST, isso não é “sectarismo”. É coerência. Se trata de levar à prática aquilo que se diz defender.

O dilema que vive a direção do MTST e do Psol não é com os “governistas” ou “sectários”. É um dilema consigo mesmo, e que se resolve com coerência. Se, de verdade, os companheiros não querem fortalecer um ato que é para defender o governo, então devem romper com a manifestação de 20 de agosto. Não adianta meias medidas – fazer um ato dia 20 em outro horário e local como se pretende em alguns lugares. A simbologia do dia 20 já está definida, e é de defesa do governo. É preciso romper com essa localização política.

Chamamos mais uma vez ao Psol e ao MTST: venham construir, junto com a CSP-Conlutas e as entidades do Espaço de Unidade de Ação, um processo de mobilização nacional contra o governo e contra a oposição burguesa. Esse é o caminho por onde, de verdade, podemos derrotar este governo e seu ajuste fiscal, e também a oposição burguesa. Nossa unidade permitirá fortalecer ainda mais esta luta.

O PSTU defende esta alternativa porque acredita que é nesse caminho que construiremos uma saída para a crise na perspectiva da classe trabalhadora que, portanto, precisa ser contra o governo Dilma e o PT e também contra a oposição burguesa de Aécio Neves do PSDB, Eduardo Cunha e Temer, do PMDB. Nossa classe precisa lutar para livrar o país de todos eles o quanto antes. Precisa de um governo dos trabalhadores, sem patrões, que mude o Brasil, acabando com o reino das multinacionais, dos bancos e das grandes empresas.

Se as direções do Psol e do MTST decidem permanecer no campo da manifestação do dia 20, não há como fugir do raciocínio que está no início desta nota. O que os companheiros fazem, do ponto de vista prático, é muito mais importante que aquilo que dizem de si mesmo ou de suas intenções. Neste nível da política não existe ingenuidade e tampouco vale o que se tem a “intenção” de fazer. Valem os gestos políticos concretos, e a que alternativa eles fortalecem.

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