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Os egocêntricos do Império Britânico saíram das tumbas

27.06.2016 14:00 0

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Nada poderia ter sido pior. Nenhum sinal ao mundo poderia ter sido pior. Nenhum gesto revelaria mais descomprometimento com o senso de pertencimento internacional do que o Brexit, o neologismo em inglês da fusão das palavras “britain” e “exit“, saída Britânica do bloco europeu – que soa engraçadinha, mas com conteúdo ordinário na sua pretensão de se imaginar uma ilha não só geográfica, mas humana.

Num mundo em que o separatismo deu errado e que as tentativas de união, de multilateralismo, de concepção humanista, de volta à lógica de se ver como uma única espécie humana, solavancam ante as vaidades e absurdos culturais, o ato britânico de se separar por razões econômicas, mesmo com privilégios que deteve – como manter sua moeda –, resgata o período de disputa entre os europeus pelo novo mundo. Naquele momento, o objetivo era avançar divisas, conquistar riquezas e espraiar influência, como seu viu em relação às Américas e à Asia, a partir do final do século 15.

Muito tempo depois, vítima de um inimigo comum e com divisas internas mais bem resolvidas, voltou a se irmanar pelo bem comum na Segunda Guerra Mundial.

A dissolução de princípios humanos pela prepotência do Nazismo fez os de bem se juntarem pela França, pela Polônia, pela Europa, pelos próprios ingleses que, não tivessem a ajuda do mundo, principalmente dos EUA, teriam sucumbido à sanha autoritária e expansionista de Hitler, que queria fazer da Europa a sua ilha geopolítica.

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O que Winston Churchill diria do voto separatista, algo mesquinho, egoísta, dos seus compatriotas hoje? Que neste momento de suposta perda de bem-estar social da ilha europeia, o medo de dividir com o mundo o que antes já foi dele, a solidariedade e a compreensão coletiva não merecem mais “sangue, suor e lágrimas” ingleses?

O Império Britânico de outrora não se tornou império sem explorar sangue, suor e lágrimas de nações e colonizar parte do mundo ao qual ele dá as costas agora, na sua insegurança de ilha. Nem rico seria, se dependesse apenas de suas terras e climas avessos a um “bem-estar climático”.

O museu britânico, uma das joias da história do planeta, deveria se chamar museu do mundo. Não existiria se todas as peças e obras dos gregos, egípcios, romanos, indianos, orientais, americanos e toda sorte de arte e vestígios da Humanidade, encontrados além do Canal da Mancha, não tivessem sido, segundo evidências – e assumem alguns poucos britânicos –, pilhadas de seus donos derrotados pelo imenso poder dos reis ingleses.

O Reino Unido se imagina melhor só, fora de obrigações e deveres com a comunidade a qual sempre pertenceu, guerreou contra e a favor, com os valores que mais ou menos nos nortearam até o século 20.

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Mas em pleno século 21 abandonar a lógica do multilateralismo, da comunhão, da tentativa de reparar erros e buscar acertos coletivos?

Não por isso, a sapiência da maioria dos filósofos, que ainda nos guia e conceitua o mundo, pertenceu muito pouco à ilha que se avista de Calais.

Londres, multicultural, cosmopolita, multitudo, haverá de ser menos capital do mundo que antes. Uma pena.

Que Deus abençoe os ingleses sãos, os coletivistas, pouco mais de 48 por cento que votaram por permanecer na União Europeia. É deles que o mundo e o Reino Unido vão precisar.

 

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