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Encontro realizado em Goiânia, em 2018, que se tornou um marco na organização das mulheres negras no país[fotografo]Mariana Maiara[/fotografo]

Mulheres que pintam o país com a cor da esperança

01.10.2020 16:38 0

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Começo este texto na primeira pessoa para contar que ele é escrito por alguém com um coração que neste instante bate mais forte e mais feliz pela honra de apresentar a coluna Olhares Negros.

> Veja agora o texto de estreia da coluna

Num país marcado por problemas históricos de desigualdade e de ineficiência estatal,  hoje agravados pela irresponsabilidade presidencial diante de uma pandemia que mata sobretudo os mais pobres, é inevitável que o exercício do jornalismo nos leve a mostrar fatos desagradáveis, inconvenientes ou mesmo dramáticos.

Aqui, porém, estamos diante de um daqueles momentos raros em que juntamos a satisfação de cumprir a missão profissional com o prazer de levar às pessoas e-s-p-e-r-a-n-ç-a, aquela coisa preciosa sem a qual tudo mais perde o sentido.

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Toda quinta-feira, a coluna trará mulheres extraordinárias, que pintam de esperança os lugares por onde andam. Com perfis bastante diversos, elas fazem da vida arte – a arte de conquistar espaços numa nação em que os obstáculos são sempre maiores para a população negra feminina. Brilham pelas suas conquistas individuais e pelo compromisso com questões de interesse coletivo, que passam longe de qualquer individualismo. São elas:

Dulce Maria Pereira, arquiteta, ambientalista, pesquisadora e professora da Universidade Federal de Ouro Preto, onde coordena o Laboratório de Educação Ambiental. Primeira embaixadora negra do Brasil, foi secretária-executiva da Comunidade dos Países de Língua Portuguesa (CPLP). Foi suplente do ex-senador Eduardo Suplicy (PT-SP) e presidiu a Fundação Cultural Palmares. Mãe, feminista e ativista do Movimento Negro Unificado, integra várias redes nacionais e internacionais de pesquisadores e cientistas. Seu principal tema de estudos, nos anos mais recentes, têm sido as contaminações e desastres ambientais causados por rompimento de barragens.

Helena Theodoro, bacharel em Direito e em Pedagogia, doutora em Filosofia e pós-doutora em História Comparada, é filósofa, professora e pesquisadora. Cultura afro-brasileira, escolas de samba, religiões, educação e sexualidade são alguns dos seus temas de estudo. Foi jurada do Estandarte de Ouro (do jornal O Globo) por 27 anos. Entre outros livros, publicou Mito e espiritualidade: mulheres negras e, o mais recente, Martinho da Vila: reflexos no espelho ( 2019. Preside o Conselho Deliberativo do Fundo Elas e coordena o grupo de pesquisa sobre o Carnaval do Instituto de Filosofia e Ciências Sociais da Universidade Federal do Rio de Janeiro (IFCS/UFRJ).

Kelly Tiburcio, cineasta, é graduanda no curso de História da UFRJ e produtora da série NarraPreta, na qual aborda temas relativos à produção audiovisual e ao cinema negro. Dirigiu os documentários Não Grita (em edição), sobre as violações à saúde reprodutiva das mulheres negras, e Primeiramente, Marielle, sobre a cultura do ódio contra defensores de direitos humanos. Foi assistente de direção do curta-metragem Egum (direção de Yuri Costa) e atriz no curta Ventre, dirigido por Fábio Limah. Como produtora, atuou no curta O segredo da leoa.  Coordenou a campanha “Sem Chance, sobre a realidade de pessoas negras e LGBTs no mercado de trabalho.

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Roberta Eugênio, advogada e pesquisadora associada do Instituto Alziras, foi assessora parlamentar da vereadora Marielle Franco até o seu assassinato, em março de 2018. Formada em Direito pela Universidade Estadual do Rio de Janeiro (Uerj) e mestre em Direito pela Universidade Federal do Rio de Janeiro (UFRJ), sua atuação acadêmica e profissional tem sido dedicada às temáticas dos direitos humanos e do enfrentamento do racismo e da violência política de gênero e raça. Foi advogada de diversas organizações do terceiro setor, incluindo a Redes das Marés. No Instituto Alziras, tem acompanhado particularmente a trajetória política de mulheres prefeitas e de candidatas ao Legislativo e ao Executivo.

Vanda Machado, mestre e doutora em Educação, pela Universidade Federal da Bahia, é escritora e referência para a comunidade do terreiro Ilê Axé Opô Afonjá, que funciona há 110 anos em Salvador. Também graduou-se em História pela Universidade Católica de Salvador e é professora colaboradora da Universidade Federal do Recôncavo da Bahia. Entre outras iniciativas pedagógicas, criou o projeto Irê Ayó, na Escola Eugênia Anna dos Santos do terreiro Ilê Axé Opô Afonjá, propiciando o reconhecimento da escola como referência nacional por parte do Ministério da Educação. Com trajetória acadêmica dedicada à história e à cultura afro-brasileira, é consultora e conferencista. Fez palestras em vários estados brasileiros e em países como Bélgica, Portugal, Nigéria, Cuba e Argentina.

Wania Sant´Anna, historiadora e pesquisadora de relações raciais e de gênero, é vice-presidente do Conselho Curador do Instituto Brasileiro de Análises Sociais e Econômicas (Ibase) e doutoranda do Programa de Pós-Graduação em História Comparada do IFCS/UFRJ. Foi secretária de Direitos Humanos do Estado do Rio de Janeiro, na gestão Benedita da Silva; conselheira do Conselho Nacional dos Direitos da Mulher; pesquisadora e assistente de direção da Fase e do Ibase; consultora, por dez anos, do Programa Pró-Equidade de Gênero e Raça da Petrobras e do projeto A cor da cultura”, do canal Futura. Entre outros livros, publicou Dossiê Assimetrias Raciais no Brasil: alerta para elaboração de políticas e Desigualdades étnico/raciais e de gênero no Brasi.

Ponto de contato entre o Congresso em Foco e esse time maravilhoso durante o período de desenvolvimento da ideia, Wania Sant’Anna publica hoje na coluna de estreia um texto que é pura poesia. “Fomos capazes de expor em letras fortes que a desigualdade social brasileira tem cor e que ela é negra”, escreve com uma prosa que faz a gente se acomodar melhor na cadeira para degustar cada sílaba, cada palavra.

Sabemos o quanto são maiores no Brasil os obstáculos para a população negra feminina. Uma mulher negra, sobretudo se nascida em uma família de poucos recursos econômicos, precisa estudar muito mais, trabalhar muito mais e desenvolver muito mais habilidades de relacionamento social para conquistar o seu espaço. Wania, assim como suas colegas de coluna, fez tudo isso e conquistou grande reconhecimento – internacional, inclusive.

O que não tirou dela a ternura que perfuma este outro trecho da sua escrita: “Não há caminho fácil para remover concepções que, por séculos, desumanizam a existência e as experiências de vida das pessoas negras, mas, para o bem de todos, esse é um caminho que precisa ser trilhado com honestidade, escuta, generosidade, solidariedade e respeito”.

Uma ternura de quem aprendeu com a experiência o melhor jeito de “fazer circular conhecimentos diversos e romper silêncios impostos pela escravidão e pelos açoites”, mesmo quando se trata de apontar “realidades terríveis”.

Fora tudo isso, um presente adicional pra você: Olhares Negros se servirá das fotos sensíveis de Mariana Maiara, jovem fotógrafa carioca, ela formada pela Uerj. Socióloga formada pela Universidade Federal do Rio de Janeiro (UFRJ), atualmente cursando mestrado em Antropologia na Universidade Federal Fluminense (UFF), ela tem um jeito que é só seu de mostrar as dores & delícias de ter a pele preta nesse espanto em forma de nação a que deram o nome de Brasil.


> Veja agora o texto de estreia da coluna

> Na pandemia, para cada branco sem aulas, há três negros ou indígenas

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